Hoje vamos aprender um pouco mais sobre renda fixa: sabia que a marcação a mercado e a marcação na curva são, basicamente, indicativos de como um título dessa modalidade é precificado? Afinal, mesmo ativos de rendimento fixo têm suas oscilações, já que sua rentabilidade acompanha, quase sempre, a algum outro indicador financeiro, variável.

Isso é algo que afeta principalmente aqueles investidores que resgatam o seu dinheiro antes do prazo combinado. Vamos entender melhor juntos:

O que é marcação a mercado?

Sabe quando o valor mostrado em um título de renda fixa apresenta um valor diferente a cada vez que você o checa? Esse ajuste é a marcação a mercado, e pode variar para mais ou para menos.

Esse preço indica o que você receberia se vendesse o ativo naquele momento. Em suma, ele aponta o preço de venda atual do título.

Aliás, não somente o Tesouro Direto é ajustado pela marcação a mercado este é, sem dúvida, um dos mais populares entre os títulos de renda fixa mas também debêntures, CDB, CRI e CRA e LCI e LCA apresentam essa marcação.

Como é feita a marcação a mercado?

A marcação a mercado funciona como um mecanismo que traz o preço de um título ou de uma cota com vencimento em aberto para seu valor presente. Esse processo de reavaliação representa, na prática, o quanto os investidores estariam dispostos a desembolsar por esse papel em específico, dadas as condições do mercado no dia. 

Assim, a depender do momento, o preço real de um papel pode estar sendo marcado para baixo ou para cima do seu valor teórico — aquele apresentado nas projeções da marcação na curva.

Esse preço é impactado — e ajustado — por uma série de fatores, como a flutuação da oferta e da demanda e o comportamento do mercado secundário (onde os títulos e cotas são negociados entre investidores). O grande determinante, contudo, são as expectativas de variação na taxa básica de juros, a qual está atrelada à rentabilidade dos papéis quando das suas emissões.

De maneira bastante direta, é possível afirmar que aumentos na Selic representam rendimentos maiores para novos títulos de renda fixa. O que ocorre, porém, com aqueles papéis prefixados ou híbridos que foram emitidos em um momento anterior, onde a taxa básica de juros estava mais baixa? A resposta é: perda de valor, ou marcação abaixo. 

Já em um cenário oposto, ou seja, de queda na Selic, obviamente a ordem seria a inversa: os títulos emitidos antes do novo ajuste da taxa de juros passariam a ser mais valorizados que os papéis mais novos. 

Vale citar que a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) faz, diariamente, a marcação a mercado de mais de 900 títulos, tendo por base as informações de negócios gerados por instituições financeiras no mercado secundário. 

Os valores gerados pela Associação podem ser livremente utilizados como referência por bancos e corretoras. Essas instituições, contudo, estão livres para fazer projeções por conta própria. Para isso, seus métodos devem considerar alguns elementos básicos em seus cálculos, para serem aprovados e registrados no Sistema de Supervisão de Mercados (SSM) da Anbima. Esses fatores são:

  • Emissor;
  • Indexador/ taxa de rentabilidade;
  • Prazo;
  • Rating;
  • Setor.

Qual a função da marcação a mercado?

A marcação a mercado existe essencialmente para servir como um sustento às negociações, mesmo quando o preço de um ativo sobe ou cai. Em outras palavras, ela estabelece uma espécie de representação sobre o desempenho do título.

Ainda podemos ver a marcação como uma ferramenta de equilíbrio, bastante útil para quem vai sacar o valor antes do vencimento e deseja liquidez alta. A rentabilidade, portanto, acaba sendo ajustada de acordo com a cotação real no exato dia do resgate.

Quando ocorre a marcação a mercado?

Todos os dias! Em resumo, temos aqui uma reprecificação diária. E como ela acontece? Considerando os novos valores de títulos de renda fixa, produtos da Bolsa de Valores e até de cotas de Fundos de Investimentos — afinal, a marcação é amplamente percebida na renda fixa, mas não limita-se somente a ela.

Quais investimentos sofrem marcação a mercado?

Se perguntou quais seriam esses investimentos? Olha só:

Quais são as vantagens e desvantagens da marcação a mercado?

Sem dúvidas, a transparência vem como a principal vantagem aqui. Inclusive, foi exatamente em prol dessa característica que, lá em 2002, o Banco Central oficializou a marcação a mercado. Assim, o título sempre irá refletir seu valor real.

Este modelo também é mais justo. Afinal, a marcação ainda considera a volatilidade das taxas de juros, o que ajuda o investimento a não ter o seu valor distorcido. Basicamente, se torna uma excelente ferramenta de análise para os investidores.

No que diz respeito às desvantagens, não há nada grandioso a ser citado — afinal, a marcação serve mais como um critério de avaliação sobre um investimento, não exatamente como um fator que pode prejudicá-lo, digamos assim.

O principal ponto negativo pode ser, na verdade, o desconhecimento da população geral sobre esse recurso. Quem nunca investiu em um título de renda fixa e se assustou ao checá-lo e notar que o valor havia diminuído? Muitos, inclusive, tomam decisões precipitadas nesse momento, arcando com o prejuízo de resgatar o valor antes do prazo.

É importante, já que toquei nesse assunto, lembrar que as oscilações do período não interferem na rentabilidade prometida no momento em que o ativo foi adquirido. Ou seja, afinal do tempo combinado, os lucros ainda serão os contratados lá no começo

O que é marcação na curva?

Esse conceito também refere-se ao processo de precificação de um ativo, porém, a marcação na curva, diferentemente da marcação a mercado, é importante principalmente para o investidor que planeja resgatar o seu título apenas no vencimento.

Acontece assim: de forma bem simplificada, é preciso transformar a taxa total de juros do ativo em uma porcentagem diária, que deve ser adicionada ao seu valor real todos os dias, até o fim do prazo combinado.

É claro que a conta não é apenas isso, já que a base de cálculo é complexa e, ademais, utilizamos também o conceito de juros compostos para ter resultados mais exatos.

Qual a função da marcação na curva?

Esse cálculo serve principalmente para quem não deseja que a contabilidade do ativo seja afetada pelas oscilações diárias que vemos com o auxílio da marcação a mercado. Novamente, reforço que esse é um modelo amplamente utilizado por quem pretende resgatar o título apenas no vencimento.

Assim, o valor título será composto pelo seu custo de aquisição, pela atualização do indexador utilizado e, é claro, pelos juros — estes calculados sobre o valor da emissão do ativo.

Quando ocorre a marcação na curva?

Oposta à marcação a mercado, este modelo acontece unicamente nos casos de cumprimento do prazo do ativo, já que se utiliza dos juros compostos, aplicados durante todo o período de rendimento de um título.

Para quem deseja fazer o resgate antes, a marcação na curva não tem grande utilidade — ou seja, deve-se voltar para a análise a partir da curva a mercado.

Quais investimentos sofrem marcação na curva?

Esta marcação afeta principalmente títulos de renda fixa, tais como:

  • CDB (Certificado de Depósito Bancário);
  • FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios);
  • LCIs e LCAs (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio);
  • Letras de Câmbio.

Quais são as vantagens e desvantagens da marcação na curva?

Quem acompanha o rendimento de um título a partir da marcação na curva tem menos sustos. Afinal, o modelo desconsidera aquela oscilação diária dos preços, que tão frequentemente fazem com que um ativo apresente valor negativo. 

Aqui, então, o investidor consegue visualizar apenas os valores positivos que dizem respeito ao lucro que terá no futuro, após o encerramento do prazo.

A desvantagem, portanto, é basicamente o oposto do conceito que expliquei anteriormente. Enquanto na marcação a mercado o investidor pode se assustar com as baixas de seu título, aqui ele não considera o valor real do ativo.

Qual a diferença entre marcação a mercado e marcação na curva?

Vamos repassar rapidamente o conteúdo que aprendemos até aqui? Pois bem: enquanto a marcação a mercado representa o valor atual de um título (aquilo que ele valeria se o investidor o vendesse nesse dia em questão), a marcação na curva trabalha com juros compostos e mostra como a total de rentabilidade apresentado é inicialmente aplicado dia após dia sobre o valor investido.

Lembre-se que, no primeiro conceito, podemos ter valores negativos ou positivos, já que estamos falando do valor atual do título. Contudo, no segundo conceito temos apenas valores positivos, já que se trata unicamente da porcentagem de juros aplicados ao valor, independentemente das oscilações de mercado que possam estar acontecendo.  

Por que é importante entender os conceitos de marcação a mercado e na curva?

Como eu mencionei algumas vezes ao longo deste artigo, essas duas marcações são formas de analisar a precificação de títulos de renda fixa e de fundos de investimento. Eles servem, digamos assim, como indicadores de seu desempenho.

Renda fixa

No caso da renda fixa, a compreensão de ambos os conceitos existe para manter um controle realista sobre os investimentos. Com a marcação a mercado, evitamos sustos, pois sabemos que os valores negativos dizem respeito apenas ao valor do título naquele momento — assim, só precisamos nos preocupar caso queiramos vendê-lo antes do prazo. 

Novamente, eu reforço que, apesar das altas e quedas nos valores, se o dinheiro for resgatado dentro do prazo combinado, terá a rentabilidade prometida lá no início.

Fundos de investimento

Desde 2002 vigora uma regra na qual se prevê que apenas a marcação a mercado pode ser adotada em fundos de investimento. Por quê? Antes disso, quando a marcação na curva era utilizada, investidores realizavam resgates antecipados para obter lucros, enquanto os demais participantes do fundo saíam no prejuízo. 

Logo, hoje em dia, apenas fundos que tenham comprovado a capacidade de manter determinado título até o vencimento podem adotar o conceito de marcação na curva.

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Perguntas frequentes sobre marcação a mercado

Qual é o principal objetivo da marcação a mercado?

O principal objetivo da marcação a mercado é trazer o preço de um título ou cota com vencimento futuro para o presente. Ao fazer isso, permite que os investidores tenham noção de qual o preço real e atualizado de um ativo, ou seja, por quanto esse papel poderia ser vendido ou adquirido caso fosse negociado agora.

Como evitar problemas com a marcação a mercado?

A melhor forma de evitar problemas com a marcação a mercado é evitar resgatar seus títulos antes do prazo de vencimento. Afinal, esse mecanismo só afeta ativos que não são mantidos até a maturidade. Para todos os demais, prevalece sempre os valores acordados na emissão.

Quais são os principais fatores que impactam a Marcação a Mercado?

A marcação a mercado pode ser impactada por uma série de fatores. Entre os mais importantes é possível citar:

  • Projeções de altas e baixas na taxa básica de juros;
  • Comportamento do ativo no mercado secundário;
  • Oferta e demanda do book;
  • Inflação;
  • Liquidez e prazos de resgate;
  • Tipo da taxa de rentabilidade — se prefixada, pós-fixada ou híbrida.

Como são precificados os títulos de renda fixa nos dias de hoje?

Existem duas maneiras de precificar os títulos de renda fixa: a marcação na curva e a marcação a mercado. Cada qual é utilizada para títulos específicos. 

Desde o ínicio de 2023, com a vigoração do novo regulamento para apresentação de valores de referência da Anbima, essa divisão ficou assim:

  • Marcação a mercado: CRIs, CRAs, debêntures, títulos públicos negociados no mercado secundário;
  • Marcação na curva: LCIs, LCAs, CDBs, Letras Financeiras.

Como a marcação a mercado pode ajudar nas negociações dos títulos?

Ao comparar a marcação a mercado com os valores da curva é possível identificar oportunidades únicas para vender ou comprar determinados ativos que estejam com preços momentaneamente atrativos. Dito isso, os titulares podem se deparar com situações onde é possível sair ganhando ao vender seus ativos antes do prazo, podendo ainda reinvestir os lucros em novos produtos. Como consequência, isso gera um maior volume de negociações no mercado secundário, e maior liquidez aos ativos de renda fixa.

Os investidores poderão optar por visualizar a Marcação na Curva?

Somente investidores qualificados — ou seja, aqueles com certificação profissional ou com mais de R$1 milhão investidos — podem solicitar a apresentação de valores na marcação na curva, em detrimento da marcação a mercado. Bancos e corretoras, contudo, não são proibidas de marcarem os ativos das duas formas simultaneamente. Ao fazer isso, porém, devem deixar claro que a marcação a mercado é a “principal”.

O que a Anbima considera para formar o preço dos papéis?

A atualização de preços da Anbima considera uma metodologia própria desenvolvida pela Associação, com base em contribuições geradas a diario por instituições financeiras no mercado secundário, calls de corretoras e negócios realizados. Para compreender melhor que fatores são considerados, é possível acessar o Guia de Metodologias de Precificação da Associação.

Existe data limite para solicitar a visualização dos seus ativos na curva?

Não existe nenhuma data limite. Clientes qualificados podem assinar o termo de solicitação para visualizar seus ativos na curva a qualquer momento.

Será possível visualizar o extrato retroativo com a marcação a mercado?

Extratos de produtos anteriores à nova legislação — ou seja, antes de 2 de janeiro de 2023 — só podem ser visualizados na curva. O extrato retroativo com marcação a mercado pode ser visualizado para ativos que se enquadrem no novo regulamento.

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Comentários

PEDRO - 24/03/2021

Muito interessante o grafico de preço na curva x preço de marcação a mercado. mas como construir a curva de marcação a mercado?

Gabriel da TopInevst - 25/03/2021

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Carlos Lira - 02/06/2021

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Gabriel da TopInevst - 02/06/2021

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