Você investe em renda fixa? Se sim, já deve ter notado que, ao acompanhar o desempenho de um título, o seu valor não permanece o mesmo durante todo o período de aplicação — na verdade, ele pode oscilar constantemente, chegando até a ficar negativo. No calor da emoção, muitos investidores até retiram o seu patrimônio do título quando percebem esse cenário, saindo no prejuízo por causa do resgate antecipado

Neste artigo, você vai entender por qual razão essa decisão precipitada deve ser evitada, e qual a dinâmica por trás do conceito que causa essas movimentações: a marcação a mercado.

Além disso, aprenda:

  • Como a marcação a mercado funciona;
  • Quais os dois tipos principais;
  • Quais fatores interferem na marcação a mercado;
  • Quais investimentos são afetados por este conceito;
  • Vantagens e desvantagens.

Bora aprender? Siga comigo! 

O que é marcação a mercado?

A marcação a mercado é um ajuste diário nos preços dos ativos, que indica qual seria o valor desses papéis caso fossem vendidos naquele exato momento. Essa marcação pode ser para cima ou para baixo, e afeta não somente títulos de renda fixa, mas de renda variável também.

Assim, caso o investidor decida se desfazer de um papel antes do prazo de resgate, não necessariamente o venderá pelo preço que pagou inicialmente, mas sim pelo que estiver marcado naquele momento. 

Como a marcação a mercado funciona?

A marcação a mercado é feita com base em três fatores: condições econômicas, oferta e demanda, e valor dos novos títulos lançados. Diariamente, então, os preços refletirão estes impactos na sua formação.

Para você entender melhor, imagine que um investidor compre, hoje, um título do Tesouro Direto cuja rentabilidade é de 5% ao ano. Agora, imagine que, no futuro, o Tesouro lance opções mais atrativas no mercado — com rentabilidade de 9%, por exemplo. Naturalmente, o primeiro ativo se tornará menos atrativo e, consequentemente, terá o seu preço afetado, tornando-se mais barato. Caso este determinado investidor queira se desfazer do título antes do prazo de vencimento, o venderá no mercado secundário por um valor bem menor do que aquele pago inicialmente, e sairá no prejuízo.

Quais fatores interferem na marcação a mercado?

Ao interferir na formação de preços de um ativo, a marcação a mercado exercerá a sua influência a partir de quatro fatores principais: liquidez, tipo de rentabilidade, oferta e procura e condições macroeconômicas

Vem comigo entender cada uma delas:

Liquidez

Quanto maior for a liquidez de um papel, mais ele será afetado pela marcação a mercado. Para refrescar a sua memória, lembre-se que a liquidez é a capacidade de transformar um ativo em dinheiro. Em outras palavras, a facilidade com a qual o investidor consegue vendê-lo. 

Quando o grau de liquidez é alto, portanto, essa movimentação dos preços é feita sempre no final do dia. Se for baixo, então, a marcação dos valores considera uma estimativa do preço justo para a negociação. 

Tipo de rentabilidade

Quando um título de renda fixa é pós-fixado, a marcação a mercado é um processo diário, pois segue a taxa de referência definida para a remuneração — geralmente a Selic, o CDI ou o IPCA

Os prefixados, por outro lado, vão se movimentar de acordo com as expectativas para a taxa Selic, referentes ao período de aplicação do título. A lógica é essa: se a taxa de juros subir, a rentabilidade do papel vai ser maior, mas o seu preço atual deve diminuir. O oposto também é verdadeiro: se as taxas estiverem para baixar, os rendimentos são menores, mas o valor de mercado do título sobe. 

Oferta e procura

A dinâmica aqui é simples, e não se limita somente aos investimentos. Quanto mais investidores estiverem interessados em um ativo, maior será o seu preço. Pelo contrário, se a oferta for alta, mas a demanda for baixa, então a marcação o deixará mais barato. 

Quando isso acontece, as taxas de juros também são afetadas. Nesse caso, a baixa demanda, por exemplo, deixaria a taxa mais alta para o investidor.

Condições macroeconômicas

Por fim, temos eventos nacionais e internacionais, de grande escala, que têm o poder de influenciar na marcação a mercado também. Dentro do Brasil, por exemplo, os cenários de estabilidade política e econômica costumam resultar no ganho de confiança por parte dos investidores. Além disso, temos as mudanças nas políticas fiscais e monetárias do país, que não somente interferem nas taxas de juros, mas também nos hábitos de consumo da população e, é claro, no comportamento dos investidores. 

Já no que diz respeito aos acontecimentos mundo afora e que interferem na marcação, mudanças nas taxas de juros globais, por exemplo, podem afetar os rendimentos dos títulos, impactando diretamente seu valor de mercado. 

Além disso, as flutuações do câmbio apresentam efeitos significativos, especialmente se os títulos são denominados em moedas estrangeiras. Instabilidades geopolíticas ou crises financeiras globais podem gerar volatilidade nos mercados, influenciando a percepção de risco dos investidores e, consequentemente, os preços dos títulos. 

A marcação a mercado vale só para resgates antecipados?

Sim! Embora a marcação a mercado seja exibida nas plataformas de investimentos, as condições combinadas inicialmente, no momento da aplicação, permanecem as mesmas caso o título seja levado até a sua data de vencimento. O preço atualizado pela marcação, portanto, somente é levado em consideração se o investidor resolver se desfazer dos papéis antes do prazo.

Esse mecanismo, aliás, é uma das razões pelas quais é tão recomendado que o patrimônio permaneça aplicado durante o período combinado. Assim, não somente a rentabilidade oferecida permanece intacta, como também o dinheiro permanece protegido contra as oscilações do mercado, que podem não favorecer o investidor.

Ademais, vale o lembrete de que se inteirar sobre o assunto é uma das maneiras mais eficazes de evitar o descontrole emocional ao avaliar a performance do ativo. Afinal, muitas pessoas, durante uma checagem, se assustam ao ver uma porcentagem negativa na tela — quando, na verdade, ela não indica uma perda, mas sim a marcação a mercado.

Quais investimentos têm interferência da marcação a mercado?

A renda fixa não é o único tipo de investimento a sofrer interferência da marcação a mercado: fundos de investimento e títulos de renda variável também são afetados.

Vamos entender juntos o que acontece em cada um deles: 

Renda fixa

Como você já sabe, na renda fixa, a marcação a mercado serve para indicar o preço atual de um ativo, caso ele fosse vendido. Para recapitular: em títulos do Tesouro e debêntures, por exemplo, os valores podem flutuar com as mudanças nas taxas de juros do mercado. 

Assim, a marcação permite que esses papéis sejam avaliados com base nos preços correntes, proporcionando mais transparência e refletindo as condições econômicas atuais. Se as taxas de juros aumentam, o valor de mercado dos títulos de renda fixa geralmente diminui, e vice-versa.

Fundos de investimento

Um fundo de investimento é como uma modalidade de aplicação coletiva. Nela, o gestor recolhe os recursos de todos os investidores (chamados de cotistas) e os distribui em ativos diversos, a depender da estratégia do fundo. Nesse caso, a marcação a mercado afeta o preço das cotas, ou seja, da parte correspondente a cada investidor. 

A dinâmica aqui segue a lógica da renda fixa: aqueles que desejarem vender as próprias cotas antes do prazo combinado, o farão pelo preço da marcação a mercado registrado no último dia de cotização.

Além disso, o mecanismo serve a outra função: com ele, fica garantido que cada cotista vai receber uma remuneração proporcional pela sua participação. Em outras palavras, o valor de mercado evita a transferência de riquezas.

Renda variável

Na Bolsa de Valores, os títulos negociados sofrem oscilações constantes de preço — essa, inclusive, é uma das características mais marcantes das ações, e que as classificam como renda variável. De certa forma, esses movimentos também são influenciados pela marcação a mercado.

O preço destes papéis, afinal, também varia de acordo com a oferta e a demanda, as condições econômicas do país e o desempenho das instituições emissoras. Assim, o investidor que quiser vender as ações que comprou talvez não o faça pelo mesmo preço que pagou inicialmente, podendo sair no prejuízo ou no lucro com essa operação.

Quais são as vantagens da marcação a mercado?

Compreender a marcação a mercado não é importante somente para entender as razões pelas quais o preço de um ativo flutua durante o seu tempo de aplicação. Na verdade, esse mecanismo traz uma série de vantagens bastante relevantes ao investidor. Olha só:

Transparência

Ficar de olho nas movimentações do mercado financeiro e do setor econômico é uma tarefa crucial para qualquer investidor, mesmo aqueles que aplicam somente em renda fixa. 

Como a marcação a mercado é uma espécie de termômetro destes dois ambientes, a flutuação do preço serve para acompanhar, em tempo real, o valor de um ativo. Além disso, é claro, ainda possibilita a compreensão das razões pelas quais determinado teve o seu preço alterado.

Custo de oportunidade

Houve uma época em que o preço dos títulos afetados pela marcação a mercado eram calculados de outra maneira: pela base na curva teórica das taxas atreladas ao ativo. Dessa maneira, o investidor não tinha como saber o valor de mercado do papel caso decidisse vendê-lo antes do prazo. 

Agora, porém, o mecanismo possibilita estudar esse preço e avaliar se a venda é, ou não, um bom negócio. Embora seja uma facilidade, vale lembrar que, ainda assim, é necessário que o investidor analise bem a transação antes de efetuá-la, para garantir que não vai sair no prejuízo.

Segurança

Como eu já mencionei, investidores iniciantes costumam levar grandes sustos ao checar o desempenho de seus títulos em renda fixa e se deparar com uma “rentabilidade negativa”, sem saber que o valor diz respeito unicamente ao valor atual de mercado do papel, e em nada compromete os lucros combinados no final do prazo de aplicação.

Nesse sentido, a segurança está no fato de que, embora o preço oscile e baixe várias vezes durante a aplicação, o investidor não tem nada a temer: os seus retornos seguem garantidos. Essa é uma vantagem enorme, especialmente em relação à renda variável, na qual os lucros não são previsíveis assim.

Evita defasagem do valor da carteira

Com a informação do valor de mercado em mãos, o investidor consegue ter uma visão privilegiada, digamos assim, de como anda o cenário macroeconômico no país. Consequentemente, pode avaliar a composição geral do portfólio e averiguar se a estratégia adotada continua fazendo sentido, ou poderia passar por melhorias.

Uma estratégia bastante comum e que serve, aqui, para fins de exemplo, é a de vender um título de renda fixa de baixa rentabilidade para aplicar os recursos em outro semelhante, porém com uma taxa de juros mais atrativa, antes que o primeiro tenha o seu preço desvalorizado.

Leva em conta a volatilidade na taxa de juros

Consequentemente, a marcação a mercado proporciona uma avaliação mais precisa dos ativos de renda fixa. Quando as taxas de juros flutuam, o valor de mercado dos títulos de renda fixa pode variar. Assim, o mecanismo permite que essas mudanças sejam refletidas imediatamente nos registros contábeis, proporcionando uma visão mais realista do valor atual dos ativos. Isso é particularmente relevante em ambientes econômicos dinâmicos, nos quais as taxas de juros podem sofrer alterações frequentes. Ao incorporar a volatilidade nas avaliações, inclusive, os investidores e as instituições financeiras podem tomar decisões mais informadas sobre a gestão de carteiras e o gerenciamento de riscos.

Essa abordagem também oferece mais transparência ao mercado, uma vez que os preços refletem as condições econômicas vigentes. A capacidade de ajustar os valores dos ativos de renda fixa com base nas mudanças nas taxas de juros proporciona uma visão mais dinâmica e em tempo real da saúde financeira desses investimentos.

Quais são as desvantagens da marcação a mercado?

Eu não canso de afirmar: o mercado financeiro é complexo. Assim, da mesma forma como a marcação a mercado traz vantagens para os investidores, também tem o seu lado ruim. Olha só:

Variações bruscas no valor dos ativos

Em cenários de grande incerteza econômica, a marcação a mercado torna os ativos bastante voláteis, com preços que oscilam de maneira frequente e repentina. 

Para o investidor que acompanha toda a movimentação, momentos assim podem levá-lo a fazer uma liquidação forçada do papel, mesmo quando a intenção inicial era seguir com ele até o fim do prazo estipulado. 

Dificuldade de comparação entre ativos

A natureza dinâmica da marcação a mercado significa que os valores contábeis podem variar rapidamente, impactados por flutuações nas condições do mercado, taxas de juros e outros fatores. 

Isso contrasta, por exemplo, com a abordagem de custo histórico, na qual os ativos são registrados por seu valor original de aquisição. A dificuldade na comparação surge porque a marcação a mercado reflete as condições do mercado em um determinado momento, o que pode ser volátil e subjetivo, dificultando a avaliação mais equitativa e direta de ativos diferentes, já que estes podem estar sujeitos a diferentes níveis de volatilidade ou sensibilidade às condições econômicas.

Qual a relação entre a marcação a mercado e o Tesouro Direto?

A marcação a mercado ajusta os investidores do Tesouro Direto a acompanharem os valores atuais dos ativos dos quais são titulares. Além disso, a movimentação se relaciona diretamente com o indexador do título em questão — o IPCA ou a Selic. Na prática, isso significa que os preços vão subirem ou descerem de acordo com as expectativas do mercado sobre a inflação. 

Para que você compreenda melhor, vamos tomar os títulos prefixados como exemplo. Nesse caso, estamos falando de papéis cuja rentabilidade é exata, conhecida no momento da aplicação. Ou seja, o investidor sabe exatamente quanto vai receber futuramente, sem correções.

Nesses casos, o ideal é que a rentabilidade seja maior do que a taxa Selic. Afinal, um cenário assim preservaria o poder aquisitivo do investidor, que teria um lucro acima da inflação. 

Pode-se dizer, então, que a marcação no Tesouro Direto proporciona transparência aos investidores, permitindo que eles vejam o valor real de seus investimentos em tempo real. Essa prática ainda implica que, se um investidor decidir vender seus títulos antes do vencimento, o preço de venda será determinado pelo mecanismo, refletindo as condições atuais do mercado de juros. 

Continue aprendendo com a TopInvest

Entendeu como a marcação a mercado funciona? Então, saiba que você pode seguir nessa jornada de aprendizado financeiro no canal da TopInvest no YouTube. Por lá, você encontra inúmeros vídeos que são verdadeiras aulas para quem deseja ser um profissional fora da curva, ou simplesmente se educar financeiramente! 

Perguntas Frequentes sobre Marcação a Mercado

Qual é o principal objetivo da marcação a mercado?

O principal objetivo da marcação a mercado é refletir o valor atual de um ativo com base nas condições de mercado, que estão em constante mudança.

Quais os títulos que sofrem a marcação a mercado?

Títulos de renda fixa (Tesouro Direto, debêntures, LCIs, LCAs e CDBs), de renda variável (ações) e fundos de investimento.

Como evitar problemas com a marcação a mercado?

Mantenha uma estratégia de investimento alinhada com os seus objetivos de longo prazo, minimizando reações impulsivas às flutuações de curto prazo nos valores dos ativos. Também diversifique a carteira de investimentos, incluindo ativos de diferentes classes, para ajudar a reduzir a sensibilidade às variações de mercado. 

Por que saber sobre marcação a mercado?

A marcação a mercado é um mecanismo fundamental para compreender as oscilações do mercado econômico e como essas movimentações afetam o preço dos investimentos. Compreendê-lo é essencial para entender o cenário macroeconômico atual e para tomar decisões de aplicação de maneira mais consciente.

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Comentários

Sil - 06/06/2018

Tenho uma dúvida, se a Mam é diária, porque as vezes ocorre de de repente um fundo dar rentabilidade negativa e pelo histórico o fundo tem um bom desempenho? Estou fazendo essa pergunta porque escutei o seguinte comentário: " Os fundos não foram bem esse mês devido a Mam" e gostaria de entender isso.

Kleber Stumpf - 07/06/2018

Oi Sil, tudo bem com você? Vamos lá... Um fundo de investimentos pode ter bons ativos em carteira como tesouro pré fixado a taxas de 12% ao ano, o que hoje seria excelente. A MAM, ou marcação a mercado precifica o título pelo preço de mercado e não pela curva de juros. Isso significa que se a taxa de juros subir irá haver um efeito no preço a mercado do título e apresentar rentabilidade baixa ou negativa para o fundo. Este é um assunto um pouco complexo para responder somente em um comentário, por isso já coloquei no meu planejamento de conteúdos para fazer um vídeo explicando melhor esta sua dúvida. Você já é inscrita no canal do YouTube? ;) Visite meu canal no YouTube! Adquira nosso curso completo da para as provas da ANBIMA. Curta nossa página no facebook e não esqueça de compartilhar nosso conteúdo para que possamos continuar com a educação financeira gratuita. Um abraço, Kléber Stumpf

CLEITON DA COSTA FARIA SANTOS - 21/06/2019

Boa tarde Kleber, eu gostaria de tirar uma duvida, a marcação a mercado é responsabilidade do Administrador ou do Custodiante?

Kleber Stumpf - 21/06/2019

Oi Cleiton, tudo bem? Depois de vários estudos e discussões, chegamos a conclusão de que essa é uma obrigação do administrador do fundo, podendo ser terceirizada para o custodiante. Visite meu canal no YouTube! Adquira nosso curso completo da para as provas da ANBIMA. Siga a gnt no Intagram e não esqueça de compartilhar nosso conteúdo para que possamos continuar com a educação financeira gratuita. Siga-nos no instagram. Um abraço, Kléber Stumpf