Renda fixa é para quem está começando ou tem pouca tolerância a risco, já renda variável é para investidores experientes e com mais dinheiro, correto? Errado!

É verdade que a renda variável não é indicada para investidores muito conservadores, mas cuidado: isso não significa que a renda fixa seja exclusiva para iniciantes ou para quem busca apenas segurança.

Além de funcionar como porto seguro, a renda fixa pode fazer parte de carteiras sofisticadas, equilibrando estratégias mais arriscadas.

 Inclusive, o que muita gente não sabe é que, mesmo dentro dessa categoria, existem títulos mais voltados a investidores arrojados ou aqueles de grande patrimônio. O melhor exemplo? As Letras Financeiras (LFs) — um produto semelhante a um “CDB turbinado”. 

Quer descobrir por que esse tipo de investimento não é para qualquer um e como funciona? Então fica comigo. Neste artigo, você vai encontrar respostas para dúvidas como:

  • O que são Letras Financeiras?
  • Classes de Letras Financeiras
  • Para quem é indicado LFs?
  • Qual a diferença entre CDB e Letra Financeira?
  • Qual a diferença entre LC e LF?
  • Qual a rentabilidade das LFs?
  • Qual a tributação da LF?
  • Quais os riscos das Letras Financeiras?
  • Por que a Letra Financeira não tem FGC?
  • Como investir em LFs?
  • Como resgatar as LFs?

Bora conhecer de perto um dos investimentos mais ousados da renda fixa?

O que são Letras Financeiras?

As Letras Financeiras (LFs) são títulos de renda fixa privada de emissão bancária, utilizados por bancos para captação de recursos de longo prazo.

Quem investe em LFs está, na prática, emprestando seu dinheiro para o banco emissor por um período determinado (até o vencimento), em troca de uma taxa de juros previamente acordada (prefixada ou flutuante), que será paga junto ao valor aplicado ao final do prazo.

Até aí, nada muito diferente de outros títulos de renda fixa, né? Mas, como diz a sabedoria popular, o “diabo está nos detalhes” — e, nesse caso, eles não são nada sutis:

  • Prazos longos: geralmente de 2 a 5 anos, sem possibilidade de resgate antecipado, o que significa que o dinheiro ficará preso até o vencimento;
  • Valores mínimos altos: investimento inicial entre R$50.000 e R$300.000, dependendo do tipo de letra;
  • Riscos maiores: apesar de serem títulos de renda fixa, não têm proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), então há risco de perda do capital caso o banco emissor enfrente problemas.

Em contrapartida, como você talvez tenha deduzido, o grande atrativo das LFs é o potencial de retorno que, justamente por esses riscos e condições, costumam ser bem superiores ao de produtos semelhantes de renda fixa.

Classes de Letras Financeiras

As Letras Financeiras podem ser classificadas em com cláusula de subordinação e sem cláusula de subordinação. Dentro do segundo grupo, existem ainda duas classes específicas: a Letra Financeira Subordinada Nível II (LSFN) e a Letra Financeira Subordinada Capital Complementar (LFSC).

Parece complicado à primeira vista? Não se preocupe, vamos por partes. Antes de continuar, é importante entender: o que significa ter uma cláusula de subordinação.
Trata-se de um tipo de “termo de risco extra”. Se o banco quebrar ou não cumprir suas obrigações, quem possui LFs com cláusula de subordinação só recebe depois que os credores sem subordinação forem pagos.

Além disso, valor e prazo mínimo das LFs dependem da existência dessa cláusula:

  • LFs sem subordinação: preço unitário mínimo de R$50.000 e prazo mínimo de 2 anos;
  • LFs com subordinação: preço unitário mínimo de R$300.000 e prazo mínimo de 5 anos.

Ou seja, quem investe em LFs subordinadas fica no fim da fila para receber o pagamento, precisa aportar mais dinheiro e esperar mais tempo. Essa estrutura protege investidores menores, reservando os títulos de maior risco para quem tem mais experiência e capital. 

O lado positivo? A taxa de juros dessas LFs é maior do que a dos títulos não subordinados, como recompensa pelo risco adicional.

A existência ou não da cláusula de subordinação não é importante apenas para o investidor, mas também para o banco emissor. Isso porque as LFs subordinadas podem ser consideradas elegíveis para compor o capital regulatório da instituição — o chamado patrimônio de referência (PR), exigido pelo Banco Central.

Na prática, esse patrimônio funciona como um “colchão de segurança”, ajudando o banco a enfrentar períodos de crise e a manter sua solidez.

É nesse contexto que surgem as duas subclasses:

  • LFSN: podem ser usadas para compor o Capital de Nível II do banco, parte do patrimônio regulatório que serve de reserva adicional de segurança;
  • LFSC: podem ser usadas para compor o Capital Complementar do banco, criado para atender exigências de Basileia III (as regras internacionais de solidez bancária).

Na prática, para o investidor, a LFSN tem preferência sobre a LFSC. Isso significa que quem detém LFSC é o último da fila de credores em caso de problemas no banco. Como o risco é maior, essas letras oferecem as melhores taxas de juros.

Ufa! Já deu para perceber que as LFs não são das mais simples, né? Para facilitar, preparei uma tabela comparativa que resume os principais pontos:

CaracterísticaLF sem SubordinaçãoLFSN (Subordinada Nível II)LFSC (Subordinada Capital Complementar)
Valor mínimoR$ 50.000R$ 300.000R$ 300.000
Prazo mínimo2 anos5 anos5 anos
Risco de créditoMenorMaiorMaior ainda
ElegibilidadeNão elegívelCapital de Nível IICapital Complementar (Basileia III)
Para que são destinadasCaptação geral de recursos para financiar operações do bancoReforço de capital regulatório (reserva extra exigida pelo Bacen)Reforço de capital regulatório em linha com Basileia III

Para quem é indicado LFs?

As Letras Financeiras são indicadas para investidores que têm patrimônio elevado e planejamento financeiro, capazes de manter o dinheiro aplicado até o vencimento.

O investimento inicial varia entre R$50.000 e R$300.000, com prazos que vão de 2 a 5 anos, dependendo da classe. Isso significa que o capital ficará “preso” durante todo o período, reforçando a necessidade de uma reserva de emergência sólida.

Além disso, as LFs apresentam diferentes níveis de risco e retorno. Isso depende da classe (subordinada ou não), do prazo, do valor investido e da qualidade de crédito do banco emissor. 

Dentro desse contexto, é possível escolher opções de acordo com a tolerância ao risco:

  • Conservadores: LFs de prazos mais curtos emitidas por bancos sólidos, aproveitando a segurança da renda fixa;
  • Arrojados: LFs com maiores retornos, mesmo que isso envolva mais risco ou prazo mais longo.

Em suma: existem LFs para todos os perfis de investidores, mas não para todos os bolsos. São títulos interessantes para quem quer diversificar a carteira com opções de renda fixa mais atrativas e planejadas para o longo prazo.

Qual a diferença entre CDB e Letra Financeira?

Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e as Letras Financeiras (LFs) são dois produtos que costumam causar confusão. Afinal, tratam-se ambos de títulos de renda fixa de crédito privado emitidos por bancos. Mas existem diferenças significativas entre eles:

CaracterísticaCDB (Certificado de Depósito Bancário)LF (Letra Financeira)
Valor mínimoGeralmente baixo, a partir de R$ 1.000Alto: R$ 50.000 a R$ 300.000, dependendo da classe
PrazosCurto a médio prazo, geralmente meses a alguns anosMédio a longo prazo: 2 a 5 anos
Resgate antecipadoFrequentemente permitido (depende do contrato)Não permitido: dinheiro fica “preso” até o vencimento
RiscoBaixo, principalmente em bancos sólidos. Conta com com cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$250 mil por instituiçãoSem FGC: se o banco quebrar, o investidor assume o risco. Em LFs subordinadas, o risco é maior, porque só recebem depois de outros credores.
RentabilidadeNormalmente menor em comparação às LFsGeralmente maior, compensando o risco e o valor elevado exigido
Perfil indicadoInvestidores conservadores ou moderadosInvestidores experientes e ou com patrimônio elevado e planejamento para longo prazo

Em resumo:

  • CDBs são mais flexíveis, acessíveis e seguras — características que os tornam interessantes para investidores mais tradicionais;
  • LFs, por sua vez, exigem valores mais altos, prazos mais longos e apresentam maior risco. Em compensação, costumam oferecer taxas de juros mais atrativas. São uma opção para investidores mais experientes e ou que podem manter o capital aplicado até o vencimento e buscam retornos superiores dentro da renda fixa.

Qual a diferença entre LC e LF?

Seja por sua natureza ou mesmo pela proximidade das siglas, outro investimento que costuma ser confundido com as LFs são as LCs, ou Letras de Câmbio — modalidade de título de crédito emitido por instituições financeiras não bancárias. Contudo, as diferenças, entre esses investimentos, também são notáveis:

CaracterísticaLC (Letra de Câmbio)LF (Letra Financeira)
EmissorInstituições financeiras não bancáriasBancos comerciais ou múltiplos
Valor mínimoMais acessível, geralmente na casa de R$ 1.000 a R$ 5.000Elevado: R$ 50.000 a R$ 300.000, dependendo da classe
PrazoCurto a médio prazo (1 a 3 anos)Médio a longo prazo (2 a 5 anos)
Resgate antecipadoFrequentemente permitido, depende do contratoNão permitido: capital fica “preso” até o vencimento
Risco Coberto pelo FGC até R$ 250 mil; risco menorSem FGC; LFs subordinadas têm risco maior, pois recebem depois de outros credores
RentabilidadeMenor, compatível com menor riscoGeralmente maior, compensando risco e capital elevado exigido
Perfil indicadoConservadores a moderadosInvestidores experientes, com patrimônio elevado e planejamento de longo prazo

Observação: ao contrário do que o nome sugere, a Letra de Crédito não tem relação com câmbio ou moedas. Trata-se de um título de crédito privado emitido por instituições financeiras conhecidas como sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeiras).

Qual a rentabilidade das LFs?

As Letras Financeiras (LFs) costumam render mais que a média da renda fixa, pois exigem valores mínimos elevados e prazo mais longo — fatores que aumentam o risco e justificam juros maiores.

Como qualquer título de renda fixa, a rentabilidade é previsível: o investidor sabe desde o início se os juros serão:

  • Prefixados: taxa anual definida no momento da aplicação;
  • Pós-fixados híbridos: atrelados a um índice de mercado — normalmente o CDI, o referencial mais usado na renda fixa — acrescido de um spread adicional mais atrativo.

É importante considerar ainda que a rentabilidade das LFs pode variar bastante de título para título, dependendo de fatores como:

  • Prazo de vencimento;
  • Valor aplicado;
  • Classe do título (não subordinada, LFSN ou LFSC);
  • Risco de crédito do emissor: bancos menores costumam oferecer juros mais altos, enquanto bancos mais sólidos pagam taxas mais modestas, porém com menor risco.

Dica: se a rentabilidade das Letras Financeiras (LFs) não for superior à de outros títulos de renda fixa privada, como LCs e CDBs, não faz sentido investir nelas. Afinal, por que assumir mais risco e imobilizar uma grande quantia de dinheiro se existem alternativas mais seguras e acessíveis?

Regras práticas de investimento:

  • Entre duas opções com o mesmo risco, escolha a de maior retorno;
  • Entre duas opções com o mesmo retorno, escolha a mais segura.

Qual a tributação da LF?

Na teoria, Letras Financeiras (LFs) são tributadas pelo Imposto de Renda (IR) seguindo a Tabela Regressiva de Renda Fixa, a mesma que incide sobre a maioria dos investimentos de renda fixa — onde quanto maior o tempo de carregamento, menor o desconto.

Na prática, como as LFs têm prazo mínimo de 2 anos, a alíquota aplicada é de 15%, que é a menor faixa da tabela regressiva. Em caso de venda da LF no mercado secundário antes de 24 meses, a tributação deve seguir a tabela regressiva conforme o tempo decorrido.

Importante: os tributos incidem apenas sobre os rendimentos, não sobre a aplicação. Portanto, o capital investido fica intacto, livre de descontos.

Quais os riscos das Letras Financeiras?

As Letras Financeiras têm risco menor que o da renda variável, mas maior que o de títulos públicos ou de CDBs. Em resumo, envolvem três pontos principais: risco de crédito, risco de liquidez e ausência de cobertura do FGC.

Entre eles, o aspecto mais importante é a solidez do banco emissor e sua capacidade de cumprir com as obrigações assumidas.

Em geral, quanto mais alta a taxa oferecida, maior o risco: instituições menores costumam pagar juros mais atrativos justamente para captar recursos. Se o banco quebrar, o investidor pode perder o valor aplicado — risco ainda maior para quem possui Letras Financeiras subordinadas (LFSNs e LFSCs), que ficam no fim da fila de prioridade no caso de liquidação.

Outro aspecto importante: esse investimento não conta com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Isso significa que, ao contrário de CDBs, LCIs e LCAs, o investidor não tem a cobertura de até R$250 mil por CPF e instituição em caso de falência do banco.

 Ou seja, aqui não existe essa rede de segurança: todo o risco fica concentrado na saúde financeira da instituição emissora.

Há ainda o risco de liquidez. Como são aplicações de longo prazo, com valores elevados e sem possibilidade de resgate antecipado, o investidor precisa estar seguro de que não vai depender desse dinheiro em uma emergência — nem para aproveitar oportunidades que surjam no meio do caminho.

Por que a Letra Financeira não tem FGC?

A Letra Financeira não conta com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos porque não foi criada para financiar operações bancárias tradicionais, como ocorre com CDBs, LCIs e LCAs. 

Trata-se de um instrumento voltado à captação de recursos de longo prazo, destinado a reforçar a estrutura de capital dos bancos, conforme requisitos regulatórios do Banco Central.

Além disso, por exigir valores mínimos elevados e oferecer rentabilidade superior, a LF é classificada pela regulação (Banco Central e CVM) fora do escopo dos produtos de varejo comuns.

Como investir em LFs?

Embora qualquer pessoa (física ou jurídica) possa investir em Letras Financeiras, esse tipo de produto é mais comumente negociado por investidores qualificados ou institucionais — como fundos, tesourarias e clientes Private de alta renda. Para quem está começando, o caminho mais usual é procurar o gerente do banco, uma corretora especializada ou um assessor de investimentos.

Feita a vírgula, o passo a passo para investir em LFs não difere muito de outros títulos de renda fixa. A diferença é que, pelas quantias elevadas envolvidas, a atenção deve ser redobrada:

  1. Faça seu planejamento financeiro: as LFs são indicadas para metas de médio e longo prazo, pois o dinheiro ficará “travado” até o vencimento (na maioria dos casos não há resgate antecipado). Só invista valores que não vai precisar no curto prazo;
  2. Abra conta em uma corretora ou banco com acesso a LFs: escolha uma instituição habilitada a oferecer esse tipo de título. Esses produtos são mais comuns em bancos private e em corretoras para clientes qualificados;
  3. Confirme o valor mínimo: o valor nominal unitário mínimo por título é legalmente de R$50.000 (sem subordinação). Na prática, os bancos costumam exigir aportes maiores — em torno de R$150 mil;
  4. Complete o teste de suitability: responda honestamente ao questionário de perfil do investidor. Essa etapa é obrigatória para verificar se o produto é adequado para você;
  5. Pesquise emissores e ratings: avalie o histórico e a solidez do banco emissor, além de seu rating de crédito. Para quem está começando, pode ser mais seguro priorizar instituições maiores, mesmo que ofereçam taxas menores;
  6. Leia o prospecto: confira prazo, forma de remuneração, possibilidade (ou não) de resgate antecipado e cláusulas de subordinação;
  7. Compare a rentabilidade líquida: considere a alíquota de IR e os custos da operação. Se o retorno for inferior ao de outros produtos de renda fixa mais acessíveis, a LF pode não compensar;
  8. Emita a ordem de compra: participe da oferta primária (reserva) ou adquira no mercado secundário — lembrando que a liquidez é limitada.

Depois disso, basta acompanhar o investimento até o vencimento para resgatar o capital aplicado acrescido da remuneração contratada.

Como resgatar as LFs?

No vencimento do título, o valor investido é creditado automaticamente na conta de investimento do titular, acrescido dos juros contratados. Não é preciso solicitar o saque: basta aguardar a data de vencimento.

“E quanto a taxas e impostos?”

  • O valor resgatado já vem líquido do Imposto de Renda, retido na fonte conforme a tabela regressiva;
  • Como as LFs têm prazo mínimo de 2 anos, não há incidência de IOF;
  • Custos adicionais (como taxa de corretagem ou custódia) dependem da instituição, mas não são regra. Se existirem, serão informados no momento da compra.7

“E se eu precisar do dinheiro antes do tempo?”
A única alternativa é tentar vender a LF no mercado secundário. Porém, isso depende de haver comprador interessado e do preço vigente de mercado. Não há garantia de liquidez — a venda pode levar tempo e o valor recebido pode ser menor que o aplicado.

Portanto, só considere a venda antecipada em caso de necessidade, ciente de que pode haver perdas.

Quer aprender mais sobre investimentos?

Os produtos de investimentos vão muito além de aplicações tradicionais, como poupança, CDBs ou ações — as LFs são prova disso.

Para investidores iniciantes, profissionais ou quem sonha com uma carreira no mercado financeiro, conhecer a fundo cada produto e seus detalhes é essencial para tomar decisões mais seguras e inteligentes.

A boa notícia é que todo o material que você precisa para estudar o mercado está aqui: no blog e no canal do YouTube da TopInvest, pronto para ajudar você a evoluir nos seus investimentos.

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