Responda rápido: quando falo do risco de o investidor não receber o que tem direito em uma aplicação, de que risco estou falando?

a) Risco de crédito;
b) Risco de contraparte;
c) Risco de crédito de contraparte;
d) Nenhum deles;
e) Todas as anteriores.

A melhor resposta é: E.

Afinal, todos esses riscos têm algo em comum — a possibilidade do famoso  “calote”

Mas atenção: embora parecidos, não são exatamente a mesma coisa. Como diz o ditado, o diabo mora nos detalhes. E é nesses detalhes que a gente precisa colocar a lupa.

Se você quer entender o que é risco de contraparte e como ele se diferencia do risco de crédito (e do risco de crédito de contraparte), vem comigo. Hoje você aprenderá:

  • O que é uma contraparte?
  • O que é risco de contraparte?
  • Risco de crédito é diferente de risco de contraparte?
  • O que significa risco de crédito de contraparte?
  • Qual a diferença entre risco de crédito e risco de crédito de contraparte? 
  • De quem é o risco de contraparte no mercado futuro?

E então: vamos nessa?

O que é uma contraparte?

De origem jurídica, o termo contraparte significa simplesmente o agente do outro lado de um contrato. No mercado financeiro, representa o outro participante numa operação financeira — quem está do lado oposto da transação.

Substantivo composto, o sentido de contraparte fica ainda mais claro ao dividir e explicar seus elementos por separado:

  • Contra: oposição; o lado que se coloca em frente a outro.
  • Parte: participante ou envolvido num acordo.

Mesmo que, neste caso, o termo em português não tenha origem no inglês — como acontece com muitos substantivos do glossário financeiro —, mas sim no latim, vale notar como a palavra counterparty traz uma camada imagética interessante, que ajuda a visualizar melhor o conceito:

  • Counter: pode significar tanto “oposto” quanto “balcão”,
  • Party: quer dizer “parte” ou “participante” de um contrato.

Ou seja, counterparty é, literalmente, “a parte do outro lado” —  a pessoa (ou instituição) que está do outro lado do balcão numa transação.

Existem diferentes contrapartes no mercado financeiro:

Tipo de contraparteExemplos no BrasilContexto típico
IndivíduosInvestidores de varejo, plataformas P2PInvestimentos pessoais
EmpresasEmissoras de títulos, hedgers corporativosContratos financeiros e comerciais
Instituições financeirasBancos, corretoras, DTVMsEmpréstimos, derivativos, câmbio
Governo/Setor públicoTesouro, Banco Central, estadosDívida soberana, câmbio
Clearing housesB3, SelicCompensação e liquidação
Investidores institucionaisFundos, seguradoras, previdênciaOperações de grande porte

Note que a existência de uma contraparte é indispensável para a concretização de qualquer negócio:

  • Quem vende precisa de um comprador como contraparte;
  • Quem compra precisa de um vendedor como contraparte.

Exemplo: quando um investidor adquire uma ação, sua contraparte é a empresa emissora. Nesse arranjo, a contraparte da empresa é o investidor (acionista).

Nesse tipo de transação, porém, há ainda um terceiro participante, que atua nos bastidores: a clearing house, ou câmara de compensação, que funciona como contraparte central.

Seu papel é intermediar a operação entre comprador e vendedor, garantindo que ambos cumpram suas obrigações para que a negociação se conclua como combinado.

O risco de que algum dos lados falhe em seu compromisso é o que chamamos de risco de contraparte — assunto sobre o qual me detenho com mais atenção na sequência.

O que é risco de contraparte?

O risco de contraparte pode ser definido como a possibilidade de descumprimento, pela contraparte, das obrigações relativas à liquidação financeira de uma operação. Em bom português, é a chance de que o outro participante de uma negociação financeira não honre o combinado em contrato, gerando prejuízo para a parte contrária.

Isso acontece, por exemplo, quando a contraparte:

  • Não entrega o ativo combinado;
  • Não realiza o pagamento devido;
  • Atrasa a liquidação.

Essas situações podem ocorrer por diferentes motivos — falta de recursos, insolvência ou mesmo quebra de cláusulas contratuais.

O risco de contraparte é mais comum em operações com derivativos, especialmente aquelas negociadas de forma privada, no mercado de balcão (OTC).

Já no mercado estruturado, esse risco é mitigado pelas câmaras de compensação. Elas atuam como intermediárias entre comprador e vendedor, “travando” os ativos até a liquidação e garantindo que a transação seja concluída conforme o acordado.

Risco de crédito é diferente de risco de contraparte?

Sim. Tratam-se de dois tipos de risco diferentes.

É comum ouvir por aí que o risco de contraparte é igual ao risco de crédito, só que o primeiro aparece na renda variável e o segundo na renda fixa. Essa explicação até ajuda a simplificar os conceitos, mas é apenas meia verdade.

De fato, o risco de crédito é mais frequente na renda fixa, porque está ligado a empréstimos ou títulos de dívida. Por exemplo: quem compra uma debênture de uma empresa assume o risco de não receber os juros ou o valor investido, caso o emissor não pague.

Já o risco de contraparte é mais comum em operações com derivativos, câmbio ou empréstimo de ações, em que as duas partes têm obrigações entre si.

Pode parecer uma diferença sutil, mas muda tudo.

  • No risco de crédito, o risco é unilateral — só uma das partes (geralmente o credor ou investidor) corre o risco de não receber;
  • No risco de contraparte, o risco é bilateralas duas partes podem deixar de cumprir o que foi acordado.

Outra distinção importante:

  • No risco de crédito, o que está em jogo é o pagamento da dívida;
  • No risco de contraparte, o que está em jogo é o cumprimento do contrato como um todo, nas condições combinadas.

É justamente aí que nasce a confusão — afinal, deixar de cumprir o combinado muitas vezes significa não pagar o que se deve.

O que significa risco de crédito de contraparte?

O risco de crédito de contraparte é uma categoria específica dentro do risco de contraparte.

Perceba: todo risco de crédito de contraparte é um tipo de risco de contraparte,
mas nem todo risco de contraparte é risco de crédito de contraparte.

Confuso? Me deixa simplificar.

O risco de contraparte, como vimos, é o risco de que a outra parte de uma transação financeira não cumpra suas obrigações contratuais. Isso pode significar inadimplência, mas também atrasos, falhas na entrega do ativo ou descumprimento de prazos — enfim, qualquer quebra do acordo.

Ele está presente em qualquer contrato bilateral, como operações com derivativos, câmbio ou empréstimos entre instituições.

Já o risco de crédito de contraparte é mais específico. Ele ocorre em contratos que envolvem fluxos de caixa futuros incertos, sujeitos à variação dos preços de mercado.

Nesses casos, o risco está ligado à capacidade financeira da contraparte de pagar o que deve — e o valor em risco muda conforme o mercado. Na prática, o risco de crédito de contraparte combina elementos de dois outros tipos de risco bem conhecidos:

  • Risco de crédito: é o risco de a outra parte não pagar o que deve.
  • Risco de mercado: é o risco de perdas causadas por variações nos preços, juros ou câmbio.

Ele representa a possibilidade de que a outra parte não cumpra o que deve, sendo que o valor dessa perda pode mudar conforme as condições de mercado.

Esse termo é mais usado em operações com derivativos e no mercado interbancário, onde a exposição se altera conforme as flutuações do ativo subjacente.

  Resumindo:

  • Risco de contraparte: risco de descumprimento de qualquer obrigação contratual;
  • Risco de crédito de contraparte: risco de descumprimento em operações cujo valor varia com o mercado.

Exemplo de risco de contraparte de crédito

Para entender melhor, imagine um contrato entre duas instituições que trocam pagamentos baseados em taxas de juros ou câmbio:

  • Se o mercado se mover, o contrato pode se tornar mais valioso para um lado e menos para o outro;
  • Agora, se a contraparte deixar de pagar justamente quando o contrato está a teu favor, a perda será maior.

Por isso, o risco de crédito de contraparte não é fixo — ele varia com o mercado e depende do momento em que a falha ocorre.

Qual a diferença entre risco de crédito e risco de crédito de contraparte? 

Agora que você já entendeu o que é risco de crédito, risco de contraparte e risco de crédito de contraparte, vale colocá-los lado a lado para destacar as diferenças.

Olha só:

Tipo de riscoSituação típicaEnvolve ativo fixo ou valor de mercado?Exemplo
Risco de créditoEmpréstimo ou título de dívidaFixoEmpréstimo não pago, CDB
Risco de contraparteTroca de ativos ou pagamentos simultâneosNão depende do valor de mercadoCompra e venda de ações, câmbio à vista
Risco de crédito de contraparteContratos bilaterais com variação de valorDepende do valor de mercadoSwaps, derivativos, compromissadas

De quem é o risco de contraparte no mercado futuro?

No mercado futuro, o investidor não precisa se preocupar com a inadimplência da outra parte.
O risco de contraparte nesse tipo de derivativo é mitigado pela própria B3, que atua como contraparte central da negociação.

Ou seja:

  • O comprador “vê” a câmara como contraparte;
  • O vendedor “vê” a câmara como contraparte.

Isso elimina o risco direto entre comprador e vendedor, já que o contrato continua valendo mesmo que uma das partes falhe nas suas obrigações.

A B3 utiliza diferentes mecanismos para reduzir o risco de inadimplência:

  • Margem inicial: ao abrir uma posição em contrato futuro, o investidor precisa depositar uma quantia como garantia — uma espécie de caução que assegura o acordo.
  • Ajuste diário (mark-to-market): todos os dias, o contrato é atualizado de acordo com o preço de mercado. Quem ganha, recebe; quem perde, paga. Esse processo diário evita que as perdas se acumulem e causem a quebra de uma das partes.
  • Fundo de garantia: por fim, a bolsa mantém um fundo coletivo, financiado pelos participantes, para cobrir eventuais falhas de pagamento. Se a margem não for suficiente, o fundo assegura a liquidação sem prejuízo para o outro lado.

Em resumo: no mercado futuro, você não negocia diretamente com outro investidor, e sim com a câmara de compensação

Se alguém falhar, a clearing house usa as margens, os ajustes diários e o fundo de garantia para honrar o contrato, garantindo que a operação seja concluída como combinado.

Os contratos futuros, para lembrar, são acordos firmados hoje para uma negociação em data futura, com preços e condições definidos no presente. Nesse tipo de contrato, um lado “aposta” na alta do ativo (posição comprada), enquanto o outro aposta na queda (posição vendida).
Chegado o vencimento, o ajuste é feito com base na diferença entre o preço acordado e o preço de mercado, o que determina quem teve lucro e quem teve prejuízo.

Quer saber mais sobre derivativos?

Derivativos são um capítulo — para não dizer um livro inteiro — à parte dentro do mercado financeiro. E, como deu pra perceber, não é um tema que se domina com um passar de olhos.

Mas relaxa. 

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