Quem trabalha com o mercado financeiro sabe que não há como gerir uma companhia ou investir com assertividade sem ter noções básicas de contabilidade.
Entre os termos contábeis básicos que necessitam ser dominados e aplicados estão o patrimônio líquido (PL) e os índices de endividamento. Já ouviu falar sobre eles?
Apresentado no balanço patrimonial, o patrimônio líquido pode ser compreendido como o lucro que resta a uma empresa, após o pagamento de todas as suas dívidas — ou seja, o que realmente pertence aos seus sócios.
Os índices de endividamento, por sua vez, partem dos dados levantados para se obter o PL e podem, entre outras coisas, avaliar o quanto dos recursos de uma companhia estão comprometidos com o pagamento de suas contas, e o quanto de seu patrimônio advém de empréstimos de terceiros.
Compreender esses termos e saber como mensurá-los é, assim, essencial para as tomadas de decisões administrativas, bem como para as comparações feitas por investidores.
Caso esses termos sejam novos para você ou se ainda te resta alguma dúvida de como aplicá-los em suas análises, te convido a prosseguir com a leitura. Ao longo deste artigo, te apresentarei de forma simples e sem deixar escapar nenhum detalhe, tudo o que é preciso saber para começar a utilizar essas informações a seu favor.
Entre os tópicos abordados estão:
- O que é o patrimônio líquido;
- A fórmula do patrimônio líquido;
- O que é o índice de endividamento;
- A fórmula do índice de endividamento;
- Quais os tipos de endividamento;
- Quais os sete indicadores de endividamento mais comuns;
- Como analisar os índices de endividamento de uma companhia.
O que é patrimônio líquido?
O patrimônio líquido (PL) é um termo utilizado nas Ciências Contábeis para indicar o valor resultante da subtração dos ativos (bens e direitos) pelos passivos (custos e despesas) de uma companhia em um período determinado.
Pode-se dizer, portanto, que o PL representa a riqueza real de uma empresa, ou ainda o valor que pertence aos seus acionistas.
Esse indicador é amplamente utilizado por investidores para, entre outras coisas, analisar a saúde financeira de uma organização, bem como para mensurar o valor patrimonial de suas ações. Para isso, basta calcular o PL e dividi-lo pelo número de títulos negociados no mercado.
Fórmula do patrimônio líquido
O cálculo do patrimônio líquido é bastante simples. Sua fórmula é a seguinte:
- Total de ativos – total de passivos
Embora se trate de uma operação básica de subtração, para calcular o PL é preciso primeiro saber o que significam os dois componentes que integram sua fórmula: os ativos e os passivos.
De maneira bem direta, é possível defini-los da seguinte forma:
- Ativos: engloba todos os bens e direitos de uma companhia que podem ser convertidos em dinheiro ou lucro. Incluem desde propriedades tangíveis, até alternativas de geração de renda. Alguns exemplos são:
- Dinheiro em caixa;
- Dinheiro a receber;
- Estoque;
- Imóveis;
- Investimentos;
- Marca
- Maquinário;
- Propriedade intelectual;
- Veículos.
- Passivos: abrange todas as obrigações financeiras de uma empresa. Esse grupo considera desde dívidas com terceiros, até despesas necessárias para o bom funcionamento do negócio. Alguns exemplos são:
- Aluguéis;
- Contas de serviços;
- Débitos em aberto;
- Encargos tributários;
- Parcelas de empréstimo;
- Salários.
Patrimônio líquido pessoal
Por mais que seja, automaticamente, relacionado aos balancetes de empresas, o Patrimônio Líquido está entre os termos contábeis que também podem ser aplicados às finanças pessoais, sem a necessidade de nenhuma adaptação conceitual.
Da mesma forma que se faz ao calcular o PL de uma empresa, o patrimônio líquido pessoal pode ser definido pela discrepância de valor entre a totalidade das posses e direitos de um indivíduo, e a soma de suas dívidas e obrigações. Ou seja, a diferença entre o que pode ser convertido em dinheiro e tudo aquilo que deve ser pago.
Dessa forma, os ativos de uma pessoa podem incluir:
- Carro;
- Dinheiro em conta-corrente;
- Dinheiro na poupança;
- Dinheiro no FGTS;
- Investimentos;
- Dinheiro no FGTS;
- Imóvel;
- Objetos pessoais (móveis, eletrônicos, joias, entre outros).
Já entre os passivos pessoais, podem estar obrigações como:
- Aluguel;
- Saldo do financiamento do carro;
- Saldo do financiamento da casa;
- Valores acumulados no cartão de débito.
Com todos esses valores em mão, basta subtrair os dois montantes. O que sobrar após o desconto de todas as dívidas representa o patrimônio, ou a riqueza, de uma pessoa ou de uma família.
Como funciona o patrimônio líquido?
De forma simples, o patrimônio líquido funciona como um indicador da riqueza real de uma companhia — de o quanto esta vale de verdade. Ao mesmo tempo, também pode ser utilizado em análises fundamentalistas como um retrato de sua saúde financeira.
Ao subtrair as dívidas e obrigações dos bens e recursos próprios de uma empresa, o que o patrimônio líquido faz é, em resumo, refletir o valor que pertence aos seus acionistas e o quanto está comprometido para o pagamento de obrigações.
O patrimônio líquido abrange, entre outras variáveis, o capital social (valor aplicado por acionistas), pelos lucros e prejuízos acumulados (resultados apresentados ao longo do tempo), e pelas reservas de capital (fundos mantidos por segurança ou para expansões futuras).
O capital social cresce quando novos investimentos são realizados. Já os resultados acumulados são puxados para cima quando há lucros, e para baixo quando há prejuízos ou distribuição de dividendos.
Um patrimônio líquido positivo indica que a companhia tem mais ativos que passivos. Em termos mais diretos, é sinal de que a empresa está bem financeiramente, que é capaz de manter suas operações com recursos próprios, investir no próprio crescimento e, consequentemente, gerar bons retornos para seus acionistas.
Antagonicamente, um patrimônio líquido negativo sinaliza que a empresa acumula mais dívidas que lucros. Demonstra, portanto, que a companhia está passando por problemas financeiros como excesso de endividamento ou perdas acumuladas, o que pode afetar a capacidade de obter financiamento e pagar dividendos.
Qual a composição do patrimônio líquido?
Esse indicador é constituído pela diferença entre os ativos e passivos de uma empresa.
Contudo, para não ficar apenas em uma descrição generalista, vale aproximar a lupa e analisar sua composição mais de perto. Para isso, é possível se valer da seção 3 da Lei 6404/76, que divide o patrimônio líquido em: capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados.
Para não abrir espaço para confusão, abaixo explico brevemente cada um desses componentes:
Capital social
É formado pelo valor inicial investido na abertura da empresa e mais o dinheiro levantado com ofertas de ações. Também é contabilizado aqui o chamado “capital a integralizar”, que é um valor que ainda não está em caixa, mas que está acordado que será incorporado por um sócio em uma data futura.
Reserva de capital
Fundo reservado para contingências ou para financiar projetos de expansão. É formado por valores originados de doações, venda de ativos fixos por valor superior ao contábil, reavaliação de ativos, entre outros. Não entram nessa reserva os lucros operacionais da empresa.
Ajustes de avaliação patrimonial
Para manter a precisão, o patrimônio líquido considera o valor justo dos bens de uma companhia. Por isso, esses ativos são reavaliados e reprecificados periodicamente segundo suas condições e longevidade.
Reserva de lucros
Valor originado do lucro operacional e reservado para fins específicos como reinvestimento, cobertura de novas despesas operacionais ou para capital de giro.
Ações em tesouraria
São ações recompradas pela companhia e que podem ser emitidas outra vez ou canceladas. Sempre que a empresa recompra suas participações, seu patrimônio líquido é reduzido, segundo uma conta redutora específica utilizada para esse tipo de operação.
Prejuízos acumulados
Corresponde ao total de perdas de patrimônio provocadas por prejuízos operacionais no período analisado.
Quais são os indicadores do patrimônio líquido?
Apesar de ser um importante índice por si só, o patrimônio líquido também é parte constituinte de outros importantes indicadores contábeis, como o Return on Equity (ROE) e o Valor Patrimonial por Ação (VPA).
Comparar o patrimônio líquido com seus indicadores relativos permite que se tenha uma visão mais ampla das condições financeiras e da performance de uma empresa.
Para jogar uma luz sobre esses indicadores, explico cada um deles na sequência:
Retorno sobre o patrimônio líquido (Return On Equity ou ROE)
Termo autoexplicativo, o retorno sobre o patrimônio líquido, ou Return on Equity (ROE) no original em inglês, é um indicador utilizado para mensurar a rentabilidade de uma empresa em relação aos aportes totais realizados pelos acionistas. Mede, em outras palavras, a capacidade de uma companhia de gerar lucro com o capital próprio investido.
Na prática, o ROE é calculado dividindo o lucro líquido — que corresponde ao retorno total obtido por uma empresa após a dedução de todas as despesas, juros e outros encargos — pelo patrimônio líquido. Normalmente, o lucro líquido considerado corresponde a um período de 12 meses.
A fórmula do ROE é a seguinte:
ROE = Lucro líquidoPatrimônio líquido100
Para ilustrar, imagine uma companhia que tenha um patrimônio líquido avaliado em R$5.000.000,00 e que tenha obtido um lucro líquido de R$600.000,00 em 2023. Neste ano, o ROE da empresa em questão foi igual a:
ROE = 600.0005.000.000100
ROE =0,12 100
ROE = 12%
Agora, você deve estar se perguntando: mas 12% é bom ou ruim? Depende. Como estamos falando de ações, para que o investimento valha a pena, é preciso que a empresa em questão esteja apresentando retornos acima dos títulos de renda fixa. Do contrário, por que assumir o risco, não é mesmo?
Logo, um ROE elevado é aquele que supera a taxa Selic (principal referencial de rentabilidade dos investimentos de renda fixa).
Obviamente, quanto mais alto esse percentual, melhor. Voltando ao exemplo anterior, embora a taxa básica de juros do Brasil tenha fechado 2023 em 11,75%, sua média no ano foi de mais de 13%. Logo, a empresa em questão entregou abaixo do esperado.
Valor patrimonial por ação (VPA)
O valor patrimonial por ação (VPA) é um dos indicadores mais utilizados para analisar o valuation de uma empresa e determinar o “preço justo” de uma ação.
Ele reflete o valor contábil de cada ação com base no patrimônio líquido da empresa, ajudando investidores a avaliar se as ações estão subvalorizadas ou supervalorizadas.
Para calcular o VPA, basta, portanto, dividir o patrimônio líquido pelo número de ações emitidas em circulação. sua fórmula fica assim:
VPA =Patrimônio líquidoNúmero de ações emitidas
Para facilitar, me permita retornar ao exemplo que utilizei pouco antes. Considerando que a mesma empresa citada acima tenha emitido 300.000 ações, seu valor patrimonial sobre ação seria o seguinte:
VPA =5.000.000 300.000
VPA = R$16,67
Logo, o valor patrimonial sobre ação dessa empresa é igual a R$16,67. Se o preço de mercado da ação for inferior a este, significa que esse papel está sendo negociado a um preço abaixo do seu valor contábil. Se estiver acima, pode estar sobrevalorizado.
Mas atenção: um preço de mercado abaixo do VPA pode indicar uma oportunidade de compra, mas também pode sinalizar que o mercado tem preocupações sobre a empresa. Um desconto significativo pode refletir questões como problemas financeiros, baixa performance ou incertezas sobre o futuro da companhia.
Uma vez que o assunto são indicadores de PL, vale citar que o patrimônio líquido também é considerado como componente no cálculo da maioria dos indicadores de endividamento, tais como:
- Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL);
- Imobilização dos Recursos a Longo Prazo (IRPL);
- Índice de Endividamento Financeiro (EF).
Mas vamos com calma. Nada de meter a carroça à frente dos bois. Voltarei a cada um desses indicadores mais adiante, em momento mais oportuno, quando entrar no tema do índice de endividamento.
Como o resultado do índice de imobilização do patrimônio líquido é interpretado?
O Índice de Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL) avalia a proporção dos recursos próprios da empresa investidos em ativos permanentes, como imóveis e maquinários. Em uma interpretação mais superficial, um IPL mais baixo pode ser considerado melhor, pois indica maior disponibilidade de capital de giro.
O patrimônio líquido é formado essencialmente por ativos circulantes — aqueles de maior liquidez, que podem ser facilmente convertidos em dinheiro — e por ativos permanentes. Assim, por lógica, quanto mais dinheiro está alocado em um tipo de bem, menos sobra para o outro.
Em outras palavras, se uma empresa imobiliza parte muito considerável de seu PL, incorre no risco de ficar sem capital de giro e aumenta, consequentemente, as chances de que tenha que recorrer a financiamentos para bancar suas operações diárias.
Importante: nem tudo é tão preto no branco. Ao acrescentar contexto, as interpretações ganham novos matizes.
Um aumento no IPL pode sinalizar que a empresa está investindo em ativos permanentes com uma visão de longo prazo, preparando-se para expansão ou aumentando sua capacidade produtiva.
Por outro lado, uma imobilização do patrimônio líquido baixa pode indicar que a empresa está priorizando liquidez para aproveitar oportunidades de negócios ou manter uma reserva de segurança.
É preciso ainda ter o cuidado de não utilizar o IPL como comparativo entre empresas de diferentes setores. Cada segmento tem suas próprias particularidades e, assim, o que pode ser considerado uma imobilização de patrimônio líquido alta para um setor, pode ser um valor visto como normal para outro.
O que é índice de endividamento?
Os índices de endividamento são métricas utilizadas para medir o nível das dívidas de uma companhia.
São, assim, uma forma de mensurar e controlar o risco dos passivos de um negócio, indicando se a totalidade dessas obrigações se encontra em um grau seguro ou se, por outro lado, está saindo do controle.
Importante sublinhar que as dívidas nem sempre representam algo negativo. Não é nada incomum, por exemplo, que empresas recorram a empréstimos para expandir sua produção ou mercado. Esses recursos podem vir de diferentes fontes, tais como: bancos, fornecedores, investidores, instituições de crédito, entre outros.
Para que servem os indicadores de endividamento?
A análise desses dados permite chegar a diferentes conclusões sobre a gestão da empresa e seu desempenho econômico, embasando a tomada de decisões.
Podendo ser lidos como uma síntese da saúde financeira de uma organização, os indicadores de endividamento são métricas de grande importância tanto para gestores, quanto para potenciais investidores.
Por meio dos indicadores, os gestores podem, por exemplo, verificar se o momento atual é propício para a expansão produtiva ou de mercado ou se, pelo contrário, é preciso encontrar meios de reduzir custos para evitar problemas maiores no futuro. Essas informações são determinantes até mesmo para a tomada de novos empréstimos.
Os investidores, por sua vez, utilizam esses dados em suas análises e comparações, de modo a decidir se aplicar em uma determinada companhia é ou não um bom negócio.
Por meio dos indicadores de endividamento, quem investe pode concluir, dentre outros aspectos, se a empresa analisada é capaz de cumprir com suas obrigações de curto prazo.
Como calcular os indicadores de endividamento?
Como mostrarei adiante, existem diferentes indicadores de endividamento, cada qual com suas fórmulas e focos específicos. Contudo, os dados necessários para preencher todos esses cálculos podem ser encontrados na mesma fonte: o balanço patrimonial da empresa.
Organizado pela contabilidade, esse levantamento deve conter os grupos de ativos e os grupos de passivos da companhia — categorizados segundo sua natureza —, bem como seu patrimônio líquido.
Com essas informações em mãos, basta aplicá-las às fórmulas para encontrar os devidos indicadores.
Como o endividamento sobre o patrimônio funciona?
Na prática, o endividamento sobre o patrimônio ocorre quando a empresa, por falta de dinheiro em caixa, aloca os recursos do patrimônio líquido para quitar suas dívidas líquidas.
Esse indicador representa, desse modo, qual a porcentagem de lucro que está sendo direcionado para o pagamento de contas pendentes.
Para calcular o endividamento sobre o patrimônio, basta utilizar a seguinte fórmula:
- Dívida líquida / Patrimônio líquido
O patrimônio líquido é encontrado ao subtrair os ativos e passivos de uma companhia. Corresponde, assim, ao capital que sobra após o pagamento de todos os custos e dívidas.
Já a dívida líquida é o valor resultante da soma dos empréstimos e financiamentos em aberto de uma companhia, menos o valor que a companhia tem em caixa. Vale apontar que esse indicador só é calculado quando as contas superam o valor do caixa — do contrário, não haveria dívida e, tampouco, necessidade de recorrer ao PL para quitá-las.
Para deixar mais claro, pense no exemplo de uma empresa que esteja devendo R$100.000,00 e que tenha somente R$60.000,00 em caixa. Nesse caso, sua dívida líquida seria igual a R$40.000,00.
Agora imagine que a mesma organização tenha um patrimônio líquido de R$70.000,00. Por fim, é só aplicar esses valores à fórmula para descobrir o endividamento do patrimônio, conforme demonstrado abaixo:
- R$ 40.000,00 / R$ 70.000,00 = 0,57 = 57%
Portanto, o endividamento sobre o patrimônio mostra que 57% de todo o lucro dessa companhia hipotética deveria ser destinado para o pagamento de financiamentos e empréstimos.
Quais são os tipos de endividamento?
Os endividamentos são comumente categorizados em dois grupos: dívidas de curto prazo e dívidas de longo prazo.
Dívidas de curto prazo
Precisam ser pagos em até 12 meses, enquanto os de longo prazo dizem respeito às contas que possuem vencimentos superiores a um ano. Entre as dívidas de curto prazo, estão:
- Empréstimos com vencimento inferior a 12 meses;
- Dívidas com fornecedores;
- Antecipação de recebíveis.
Dívidas de longo prazo
Costumam ser atreladas ao financiamento de bens de maior valor, necessários para a manutenção de um negócio, tais como: imóveis, maquinários e veículos.
De modo geral, os endividamentos de curto prazo merecem mais atenção, uma vez que a empresa deve quitá-los com maior urgência. Pode-se dizer que são os menos recomendados.
Quais são os principais indicadores de endividamento?
Existem diferentes indicadores utilizados para mensurar a saúde financeira e o patamar de endividamento de uma companhia. Entre os mais utilizados, temos:
- Participação de Capitais de Terceiro (PCT);
- Composição do endividamento (CE);
- Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL);
- Imobilização dos Recursos a Longo Prazo (IRPL);
- Índice de Endividamento Geral (EG);
- Índice de Endividamento Financeiro (EF);
- Índice de cobertura de juros (ICJ).
Cada um desses sete índices é calculado com intenções específicas e por meio de fórmulas próprias. Mas não se preocupe, para que nada passe batido, abaixo explico todos esses índices contábeis, um a um.
1 – Participação de Capitais de Terceiro (PCT)
A participação de capitais de terceiro representa qual o percentual do patrimônio que provém de aplicações externas. Por meio desse indicador, é possível ter uma melhor ideia do grau de endividamento de uma empresa.
Sua fórmula é a seguinte:
- PCT = (Passivo Circulante + Passivo não circulante) / (Passivo Circulante + Passivo não circulante + Patrimônio Líquido)
Quanto mais o resultado se aproxima de 1, maior é o nível de dívidas da companhia. Se o PCT superar esse valor, a empresa atinge a insolvência — isto é, seus recursos passam a ser insuficientes para cobrir suas obrigações.
2 – Composição do endividamento (CE)
A composição de endividamento é usada para descobrir o quanto da dívida de uma empresa se concentra no curto prazo.
Como já visto, quanto maior essa concentração, mais complicado se torna a tarefa de manter os pagamentos em dia.
A fórmula do CE é a seguinte:
- CE = Passivo Circulante / (Passivo Circulante + Passivo não circulante)
Assim, quanto maior o indicador CE, maiores os riscos para a empresa.
3 – Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL)
O indicador de imobilização do patrimônio líquido é utilizado para equilibrar a estrutura de capital de uma empresa. Em suma, quanto maior o percentual de recursos imobilizados — ativos permanentes, como maquinários, imóveis, frota de veículos, entre outros —, menor é o acesso aos recursos próprios.
Ao imobilizar o patrimônio demais, a empresa aumenta a dependência de capital de terceiros para impulsionar seus ativos circulantes — estoques, caixa e contas a receber.
O nível de IPL é calculado por meio da seguinte fórmula:
- IPL = Patrimônio Imobilizado / Patrimônio Líquido
Na prática, conforme o IPL aumenta, maior se torna a dependência de investimento externo e, consequentemente, a possibilidade de insolvência.
Contudo, é importante destacar que o crescimento do capital imobilizado não leva necessariamente à evolução do IPL. Afinal, desde que o patrimônio líquido acompanhe o capital imobilizado, o IPL fica estagnado.
O avanço do PL pode, ainda, ser superior ao do capital imobilizado. Nesse cenário, o IPL retrai e a companhia se fortalece.
4 – Imobilização dos Recursos a Longo Prazo (IRPL)
O índice de imobilização dos recursos a longo prazo mensura qual a fatia das dívidas de longo prazo e do patrimônio líquido aplicados ao capital imobilizado da empresa.
A fórmula do IRPL é a seguinte:
- IRPL: Capital imobilizado / (Passivos de longo prazo + Patrimônio líquido)
Idealmente, o valor imobilizado deve ser igual ou inferior ao montante das dívidas a longo prazo.
Dessa forma, o patrimônio não circulante estaria sendo financiado pelos passivos e nenhum valor seria descontado do PL para esses fins.
5 – Índice de Endividamento Geral (EG)
O mais comum entre todos os indicadores de endividamento existentes, o Índice de Endividamento Geral, mede qual a proporção de ativos da companhia provém de financiamento de terceiros.
Desse modo, o EG pode ser entendido como uma avaliação do quanto do patrimônio da companhia está comprometido com dívidas, ou ainda como o patamar de alavancagem de uma empresa.
O EG é definido pela seguinte fórmula:
- EG = (Capital de terceiros / Ativos totais) x 100
Uma vez que cada segmento de mercado pode necessitar de volumes distintos de investimento externo para impulsionar seus negócios, não há como determinar exatamente o quanto seria um bom percentual do EG.
Contudo, o aconselhado é que o endividamento geral seja inferior aos ativos totais da companhia. Do contrário, o risco de insolvência é iminente.
6 – Índice de Endividamento Financeiro (EF)
O Índice de Endividamento Financeiro é medido por meio da relação entre o montante das dívidas de uma companhia e o valor aportado por seus acionistas.
Esse valor pode ser descoberto por meio da seguinte fórmula:
- EF = (Dívida Bruta / Patrimônio Líquido) x 100
Embora não seja recomendado que o EF ultrapasse 100%, esse não seria um agravante tão sério quanto um EG na mesma situação.
Isso porque o endividamento financeiro considera a relação da dívida e do patrimônio líquido (capital que pertence à empresa), enquanto o endividamento geral indica qual a proporção das obrigações em aberto em comparação aos ativos totais (ou seja, os ativos adquiridos com capital próprio e de terceiros).
7 – Índice de cobertura de juros (ICJ)
O índice de cobertura de juros avalia a capacidade de uma empresa de cobrir os juros contratuais de suas dívidas.
Esse valor é definido pela seguinte fórmula:
- ICJ= Lucro antes dos juros e tributos / Despesas anuais com juros
Na prática, o ICJ expõe por quanto tempo as despesas com juros poderiam ser pagas com o lucro de um período específico.
Dessa forma, quanto menor o índice, pior o resultado. Se o indicador for igual a 1, por exemplo, significa que todo o lucro da empresa está comprometido — afinal, todo o dinheiro ganho no ano só seria suficiente para pagar as despesas dos juros contratuais.
De maneira geral, um bom ICJ deve ser superior a 2.
Como analisar os indicadores de endividamento?
Com exceção do Índice de Cobertura de Juros, quanto mais altos os indicadores de endividamento, mais complicada é a situação da empresa e, consequentemente, mais arriscada a compra de suas ações.
Quando muitos indicadores de endividamento estão em patamares acima da média, há um forte indício de que a companhia se encaminha para a insolvência.
Para melhor controle financeiro, é aconselhável que o gestor acompanhe todos os indicadores em separado e em conjunto, de modo a identificar, com antecedência, se algum deles está crescendo desmesuradamente. Desse modo, é possível reverter a situação com um ou outro ajuste, antes que seja tarde demais.
Qual é o índice de endividamento ideal para uma empresa?
Há um consenso mais generalista de que um percentual de endividamento de até 30% é relativamente seguro, pois sinaliza um risco baixo de que a empresa tenha dificuldades para quitar suas dívidas. Contudo, a bem da verdade, não existe um número mágico que responda essa questão. Não há como estabelecer qual é o índice de endividamento ideal.
Determinar até que ponto um grau de endividamento pode ser visto como aceitável depende de uma combinação de cenários, incluindo, mas não se limitando, ao setor de atividade e ao momento atual de uma companhia. O importante, porém, é que essas dívidas estejam previstas no planejamento financeiro.
Embora tenha uma conotação evidentemente negativa, a “dívida” por si só não é ruim e tampouco boa. O que vale, ao fim, é o quanto de rentabilidade se conseguirá lucrar com os ativos adquiridos por meio de endividamento.
Se uma empresa, por exemplo, tem um lucro líquido de 20% e, por meio de uma dívida, consegue fazer seu retorno passar para 30%, essa pode ser vista como uma dívida saudável.
De que forma o patrimônio líquido influencia o índice de endividamento?
O patrimônio líquido é o denominador da maioria dos cálculos que avaliam as dívidas de uma companhia. Como tal, as variações do PL influenciam diretamente os índices de endividamento de forma inversamente proporcional.
Para facilitar: quando o patrimônio líquido de uma companhia aumenta, seja por meio de lucros acumulados, aumento de capital social ou outras reservas, o índice de endividamento tende a diminuir.
Isso acontece porque o aumento do patrimônio líquido aumenta a base sobre a qual as dívidas são calculadas. Como resultado, o percentual de endividamento em relação ao PL é reduzido.
Da mesma forma, quando o patrimônio líquido cai, provavelmente o índice de endividamento passará a ser mais alto. Isso ocorre porque com uma base de capital menor as dívidas passam a assumir uma maior proporção do capital da empresa.
Quais são as limitações do patrimônio líquido e índices de endividamento?
Os índices de endividamento podem apresentar informações importantíssimas sobre a saúde financeira de uma companhia. Por meio dessas fórmulas é possível, por exemplo:
- Mensurar o quanto do lucro de uma empresa está comprometido com suas dívidas;
- Qual o percentual de recursos externos sobre o patrimônio;
- Se a companhia é capaz de cobrir os juros contratuais.
Entretanto, vale a ressalva de que esses indicadores precisam ser estudados com muita cautela e não devem ser os únicos fatores determinantes ao aplicar ou deixar de fazer uma aplicação.
Para começar, adquirir dívidas ou fazer alavancagens não significa que uma companhia tenha perdido o controle de suas finanças — o que uma olhada rápida sobre os indicadores de endividamento poderia dar a entender. Os recursos externos, em muitas ocasiões, são imprescindíveis para ganhar mercado ou expandir a produção.
Além disso, é preciso tomar o cuidado de somente comparar indicadores de empresas do mesmo setor, dado que o volume de alavancagem necessário para o desenvolvimento de um negócio varia de acordo com suas atividades-fins.
Assim, o ideal é que os indicadores de endividamento sejam utilizados como ponto de partida ou complemento de análises mais profundas e estruturadas.
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Preparado para utilizar o patrimônio líquido (PL) e os índices de endividamento nas suas próximas análises de empresas? Entretanto, como eu já mencionei, tenha cuidado ao analisar essas métricas e lembre-se de combiná-las com outros fatores também. Se você deseja continuar estudando para ampliar seus conhecimentos sobre o mercado financeiro, te convido a se inscrever no canal da TopInvest no YouTube. Por lá, temos novas aulas ao vivo todas as semanas para te ajudar a se tornar um profissional fora da curva!
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