Imagine a seguinte situação: você tem um terreno e está preocupado com a possibilidade de que ele desvalorize.

Aí, aparece alguém te oferecendo uma proposta curiosa: “Se você me pagar um pequeno valor agora, eu me comprometo a comprar o seu terreno por R$200 mil até o final do ano — se você ainda quiser vender.”

Você topa. Se, nos próximos meses, o mercado imobiliário piorar e terrenos semelhantes ao seu passarem a valer R$180 mil, você ainda poderá vendê-lo por R$200 mil, conforme combinado. E se os terrenos valorizarem e passarem a valer R$250 mil? Tudo bem: você ignora a oferta, não vende, e perde apenas o valor pago pelo direito.

Na prática, você estaria a proteger o valor do seu bem, garantindo que poderá vendê-lo por um preço combinado — mesmo que o mercado despenque. Legal, né?

Na bolsa de valores, isso é exatamente o que acontece com as opções de venda, ou puts. Elas funcionam como uma espécie de seguro contra perdas: você paga um valor agora para ter o direito (mas não a obrigação) de vender um ativo por um preço determinado, até uma data específica.

Curtiu a ideia? Então fica comigo, porque neste artigo você vai entender tudo o que precisa saber para dominar essa estratégia. Entre outras perguntas, responderei:

  • O que é put?
  • O que significa comprar uma put no mercado financeiro?
  • Como funciona uma put (opção de venda)?
  • Por que negociar opções de venda?
  • Qual a diferença entre call e put?
  • Como as opções se comportam antes do vencimento?
  • Quais são as estratégias com call e put?
  • Quais as vantagens e desvantagens da operação de venda de put?
  • Como montar uma estratégia com put?
  • Afinal, vale a pena investir em opções de venda?

Bora entender como funciona essa estratégia de proteção de preço?

O que é put?

No vocabulário de finanças, put é como são chamadas as opções de venda. Trata-se de um tipo de contrato que oferece ao investidor a possibilidade (mas não a obrigação) de vender uma certa ação por um preço pré-estabelecido, até uma data de vencimento determinada. Ou seja: mesmo que essa ação venha a cair de preço no futuro, o investidor poderá vendê-la pelo valor combinado.

Esse tipo de operação faz parte do mercado de opções, onde o que se negocia não é a ação em si, mas o direito de comprá-la ou vendê-la futuramente, por um valor definido hoje.

As puts são frequentemente utilizadas em estratégias de proteção (hedge). Isto é, como uma forma de defender a carteira de investimentos contra possíveis quedas no preço das ações, especialmente em momentos de maior incerteza no mercado.

O que significa comprar uma put no mercado financeiro?

Quem compra uma put está adquirindo o direito de vender um ativo (como uma ação) que possui, por um valor predeterminado (“preço de exercício” ou “strike price”), até uma data determinada no futuro (vencimento). 

Ou seja, esse investidor paga um prêmio para alguém que se compromete a comprar essas participações, com a intenção de assegurar o valor do momento. 

Como funciona uma put (opção de venda)?

O funcionamento do put se assemelha ao de uma contratação de seguro. O investidor que compra uma opção de venda paga uma pequena quantia — chamada de “prêmio” — para garantir que, caso o ativo desvalorize, ainda poderá vendê-lo pelo preço de exercício. 

Note que a compra de um put denota uma opção de venda, não uma obrigação. Portanto, se o ativo se valorizar, o investidor simplesmente não exerce a opção e pode vender o ativo pelo preço de mercado, que será mais vantajoso. Nesse caso, apenas perde o dinheiro pago como um prêmio — exatamente como um seguro que não foi usado.

Do outro lado do balcão, quem vende a put (o chamado “lançador” ou “escritor”) assume a obrigação de comprar o ativo pelo preço combinado, caso o titular da opção queira vendê-lo — mesmo que o ativo tenha se desvalorizado.

Para não restar nenhuma dúvida, observe abaixo a tabela comparativa entre o comprador e o vendedor (lançador), os dois lados em uma operação de put:

AspectoComprador da putVendedor da put (lançador)
Direito/ObrigaçãoTem o direito de vender o ativo pelo preço de exercícioTem a obrigação de comprar o ativo, se exercido
Pagamento inicialPaga o prêmioRecebe o prêmio
ObjetivoProteger-se contra quedas no preço do ativo (hedge)Lucrar com a não execução da opção
Lucro máximo(Preço de exercício – Preço do ativo) – PrêmioPrêmio recebido
Perda máximaPrêmio pago(Preço de exercício – Preço do ativo no vencimento) – Prêmio 
Se o ativo subir…Não exerce a put e perde apenas o prêmioFica com o prêmio; lucro total
Se o ativo cair…Exerce a put e vende pelo preço de exercício; evita perdaTem prejuízo: é obrigado a comprar por um preço acima do mercado

Por que comprar opções de venda?

Existem dois motivos principais para comprar opções de venda:

  • Proteção contra desvalorizações;
  • Apostar na baixa de um ativo.

Embora o uso mais comum das puts seja como ferramenta de hedge (proteção), esses derivativos também podem ser utilizados para especulação. Como isso funciona? É isso que explicarei a seguir:

1. Proteção contra desvalorizações

O uso mais comum das opções de venda (puts) é como ferramenta de hedge, ou seja, como uma forma de proteger o investidor contra prejuízos decorrentes de uma eventual desvalorização dos seus ativos.

Nesse contexto, a put funciona como um seguro: o investidor paga um valor — o prêmio — para garantir o direito de vender o ativo por um preço previamente definido (preço de exercício), dentro de um prazo determinado. Esse mecanismo permite ao investidor “congelar” o valor de venda do ativo. Ou seja, mesmo que o preço de mercado caia significativamente, ele poderá exercer a opção de vender pelo valor acordado, limitando assim as perdas.

Exemplo: suponha que o investidor tenha ações da empresa X cotadas atualmente a R$100,00. Com receio de uma queda, ele compra uma opção de venda com preço de exercício de R$100,00, válida por 30 dias. 

Se, nesse período, as ações caírem 20% e passarem a valer R$80,00, o investidor poderá exercer a opção e vender por R$100,00, evitando essa perda no valor da carteira. A única perda efetiva será o valor pago pelo prêmio, que representa o custo da proteção.

2. Apostar na baixa de um ativo

A compra de opções de venda (put) também pode servir para especulação, ou seja, 

para tentar obter lucro apostando na baixa de um ativo.

Nesse caso, o investidor não precisa ter o ativo, ele apenas compra o direito de vendê-lo até determinada data.

Se sua estratégia funcionar — isto é, se ele estiver certo e o preço de mercado cair abaixo do preço do strike price antes do vencimento —, a opção de venda tende a valorizar-se. O investidor tem então duas possibilidades:

  • Revender a put com lucro: forma mais comum de lucrar com puts, consiste em vender a própria put. Se essa se valorizou, o investidor pode vendê-la por um preço maior do que pagou, obtendo lucro;
  • Exercer a put: caminho um pouco mais longo, neste caso, o investidor precisaria comprar as ações pelo preço de mercado e vendê-las pelo strike price para embolsar a diferença.

Exemplo: suponha que um investidor acredita que as ações de uma empresa X, atualmente cotadas a R$100,00, vão se desvalorizar nas próximas semanas. Ele compra  um put com preço de exercício de R$100,00, pagando um prêmio de R$4,00 por ação. 

Se, dentro do prazo, as ações caírem para R$80,00, essa opção de venda se valoriza, já que dá o direito de vender por R$100,00 o que agora vale R$80,00. O investidor  pode então revender essa opção no mercado por, digamos, R$14,00, obtendo um lucro líquido de R$11,00 por ação.

Qual a diferença de call e put?

Call e put são dois tipos de operações do mercado de opções. Ambos funcionam como espécies de contrato que “congelam o preço de um ativo” e conferem ao comprador o direito de negociá-lo, no futuro, pelo preço do presente. Mas atenção: estas operações não apenas são diferentes — são opostas. Funcionam em sentido contrário:

  • Put: é uma opção de venda. Quem compra uma put está a adquirir o direito de vender um ativo até uma data futura, pelo preço atual. É normalmente utilizada como hedge, ou seja, como proteção contra eventuais quedas no valor de um ativo;
  • Call: é uma opção de compra. Confere ao investidor o direito de comprar um ativo, no futuro, pelo preço de hoje. É usada sobretudo por quem acredita na valorização desse ativo e quer garantir um preço mais baixo.

Assim, quem compra uma put acredita numa eventual desvalorização do ativo ao qual a opção de venda está vinculada. Já o investidor que adquire uma call aposta no potencial de valorização do ativo relacionado à opção de compra.

Cabe destacar que ambos os contratos são, como o nome indica, opções. Ou seja, o comprador tem o direito, mas não a obrigação, de efetuar a negociação nos termos acordados.

Qual o comportamento das opções antes do vencimento?

À semelhança dos ativos-objeto (ativos subjacentes) aos quais estão lastreados, derivativos como as opções de venda (put) e as opções de compra (call) estão sujeitos a variações de valor até a data de vencimento. Esse comportamento pode ser influenciado por variáveis como: o preço do ativo subjacente, a proximidade da data de vencimento, a volatilidade do mercado, o preço de exercício, entre outras.

Para evidenciar essas relações, na tabela comparativa abaixo detalho de que forma algumas dessas variáveis impactam o valor tanto das puts quanto das calls:

VariávelImpacto na PutImpacto na Call
Alta no preço do ativo-objetoDesvaloriza (menor chance de exercer o direito de venda com lucro)Valoriza (maior chance de exercer o direito de compra com lucro)
Queda no preço do ativo-objetoValoriza (maior chance de exercer o direito de venda com lucro)Desvaloriza (menor chance de exercer o direito de compra com lucro)
Aproximação do vencimentoDesvaloriza, devido à perda do valor extrínseco (ou valor temporal).Desvaloriza, pelas mesmas razões
Alta na volatilidadeValoriza (mais incerteza aumenta a chance de lucro)Valoriza (idem)
Preço de exercícioQuanto maior o strike em relação ao preço atual, maior o valor intrínseco e da opçãoQuanto menor o strike em relação ao preço atual, maior o valor intrínseco e da opção

Aqui, vale ainda destacar que o preço de uma opção é composto pela soma de duas partes:

  • Valor intrínseco: é a diferença entre o preço do ativo subjacente e o preço de exercício. Representa o lucro imediato que poderia ser obtido caso a opção fosse exercida naquele instante;
  • Valor extrínseco: também chamado de valor temporal, corresponde ao prêmio pago pela opção devido a fatores como o tempo restante até o vencimento e demais variáveis. 

Em suma: quanto mais longínquo o vencimento, mais cara é a opção. Isso porque há mais tempo para o ativo subjacente se mover na direção esperada pelo investidor. Conforme o prazo se aproxima, a imprevisibilidade de movimento diminui, e a opção perde valor. No dia de vencimento, o valor extrínseco passa a zero, e opção vale então apenas seu valor intrínseco.

Quais são as estratégias com call e put?

Existem diferentes estratégias e combinações que podem ser utilizadas com opções de compra (calI) e opções de venda (put). As mais comuns são:

  • Straddle: consiste na compra de uma call e de uma put com o mesmo preço de exercício e mesmo vencimento. É usada quando se espera uma grande variação no preço do ativo subjacente, mas não se sabe se será para cima ou para baixo;
  • Strangle: semelhante ao straddle, mas a call e a put têm preços de exercício diferentes. É útil quando o investidor acredita saber em que direção o ativo vai mover-se, mas prefere precaver-se caso esteja enganado;
  • Borboleta: estratégia de três pontas com calls ou puts, combinando duas opções compradas e uma vendida em dobro (ou o contrário), com mesmo vencimento e strikes diferentes. É usada quando se espera que o preço do ativo se mantenha dentro de uma faixa;
  • Condor: estratégia de quatro pontas que combina duas compras e duas vendas, com preços de exercício distintos e mesmo vencimento. É semelhante à borboleta, mas com strikes mais espaçados;
  • Venda coberta: consiste na compra de uma ação e na venda de uma opção de compra (call) sobre ela. É utilizada quando se espera que o ativo se mantenha estável ou tenha alta moderada. O lucro vem do prémio recebido pela opção.

Quais as vantagens da operação de venda de put?

Para quem compra uma put, as vantagens são claras: a opção funciona como um seguro. Se o ativo cair, o investidor pode vendê-lo pelo preço previamente acordado; se subir, simplesmente não exerce a opção e se beneficia da valorização.

Mas e para quem vende a put — o chamado lançador, que assume a obrigação de comprar o ativo caso a opção seja exercida? Que razão pode haver para assumir esse risco?

A resposta está justamente nos benefícios que essa estratégia pode oferecer ao lado vendedor. Entre eles, destacam-se:

Receita imediata

A vantagem mais evidente de aceitar esse tipo de risco é o fato de que o lançador é remunerado no momento da venda da opção. O valor recebido — chamado de prêmio — representa uma renda adicional que permanece com o investidor, independentemente de a opção ser exercida ou não, podendo ser utilizado ou reinvestido livremente.

Mesmo que a operação não avance, o prêmio recebido já configura um lucro garantido pela simples aceitação do risco.

Potencial para lucrar com a estabilidade do mercado

Se o ativo subjacente permanecer estável ou se valorizar, o lançador sai ganhando. Nesse cenário, o comprador da put provavelmente não exercerá a opção, já que não faria sentido vender o ativo por um preço inferior ao de mercado.

Com isso, a opção expira sem ser exercida, e o lançador fica com o prêmio recebido como lucro líquido, sem precisar comprar o ativo ou realizar qualquer outra movimentação.

Potencial para adquirir o ativo a um preço abaixo do mercado

Vender uma put também pode ser uma forma de comprar ativos com desconto. Se o investidor já tinha a intenção de adquirir determinada ação, essa estratégia permite que ele o faça por um preço efetivamente mais baixo, já que o prêmio recebido reduz o custo total da operação.

Assim, mesmo que o ativo se desvalorize e o lançador seja obrigado a comprá-lo pelo preço de exercício, a perda será atenuada. Afinal, com ou sem a opção, ele já pretendia fazer essa aplicação — e agora o faz com um desconto embutido.

Quais as desvantagens da operação de venda de put?

Para evitar uma análise enviesada, uma vez apresentados os prós, é essencial virar a moeda e mostrar a outra face: os contras da venda de puts. Afinal, esse não é um tipo de operação adequada para todos os perfis de investidor.

Entre as principais desvantagens estão: 

Obrigações de lançador da opção

O lançador da put está numa posição menos confortável que o comprador. Isso porque, ao contrário deste — que tem o direito de exercer a opção, mas não a obrigação — o lançador é obrigado a cumprir o contrato, mesmo que tenha prejuízo com a operação.

Risco de perda significativa

Caso o ativo subjacente sofra uma queda muito grande, o lançador da opção será obrigado a comprá-la por um preço muito acima do valor de mercado, o que pode gerar prejuízos significativos — mesmo considerando o prêmio recebido.

Como montar uma estratégia de venda de put?

Quer operar com venda de put e não sabe por onde começar? Abaixo está um passo a passo básico para montar essa estratégia de forma consciente e estruturada:

  • Escolha os ativos subjacentes: selecione ações ou outros ativos que você já gostaria de ter na carteira. Lembre-se de que, ao vender uma put, há a possibilidade de ser obrigado a adquirir o ativo subjacente;
  • Defina o preço de exercício: opte por um preço de exercício com o qual você se sinta confortável em comprar o ativo, caso a opção seja exercida;
  • Escolha a data de vencimento: determine até quando o comprador poderá exercer a opção. Considere que prazos mais curtos reduzem o tempo de exposição, mas oferecem prêmios menores;
  • Avalie o prêmio: analise se o valor recebido pela venda da opção compensa o risco assumido. Esse valor é o seu ganho garantido — caso a opção não seja exercida — e pode ser usado para gerar renda recorrente.

Afinal, vale a pena investir em opções de vendas?

As opções são um tipo de ativo consideravelmente mais complexo do que produtos de investimento mais tradicionais, como os títulos de renda fixa ou as ações. Por isso, costumam ser indicadas para investidores mais experientes e com perfil arrojado — ou seja, aqueles que compreendem o funcionamento do mercado, realizam análises fundamentadas e estão dispostos a assumir riscos maiores.

Se você é iniciante ou tem um perfil conservador, esse tipo de operação talvez ainda não seja o mais adequado. Caso você já tenha mais estrada, por outro lado, o mercado de opções pode ser uma forma interessante de diversificar estratégias, fazer hedge ou especular.

Para quem compra uma opção de venda, essa é uma maneira eficiente de proteger a carteira contra a volatilidade das ações que possui. Já para quem vende uma put, essa estratégia oferece a oportunidade de adquirir ações por um preço abaixo do mercado ou de gerar renda adicional.

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Como as opções são um pouco mais complexas, muita gente acaba ignorando esse tipo de investimento e acaba aplicando em ações apenas de forma direta mesmo. Mas, como você viu, operar com puts pode ser uma excelente forma de proteger sua carteira ou até de buscar ganhos maiores especulando.

Se muita gente perde oportunidades por não conhecer esse produto, para quem quer trabalhar no mercado financeiro entender opções não é opcional — é imprescindível, e exige bastante estudo. Não à toa, esse é um dos assuntos que mais complicam na hora das provas de certificação financeira.Então, seja você um candidato a certificação ou alguém querendo diversificar a carteira, conhecer esse mercado é fundamental. Quer uma ajuda? Então aqui vai uma dica: o canal da TopInvest no YouTube! Lá você encontra centenas de vídeos didáticos sobre os mais variados investimentos, dos mais arrojados, como opções, até os mais conservadores, para quem está começando agora. Vem ser Top!

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