Você sabe o que é taxa de juros? Tenho certeza que sim. Esse é um dos conceitos fundamentais da matemática financeira e está presente no dia a dia de todos, não apenas de quem trabalha no mercado financeiro. Em resumo, a taxa de juros é a remuneração paga por quem toma um empréstimo àquele que concede o dinheiro.

A lógica é simples: os juros beneficiam os poupadores, multiplicando seu capital ao longo dos anos, mas também encarecem bens comprados a prazo. Até aí, nada de novo, certo?

Mas você sabia que a taxa de juros pode ser real ou nominal? Uma delas, as que as pessoas de modo geral mais conhecem, é aquela declarada no momento em que um contrato financeiro é assinado ou um produto é adquirido. O problema é que essa taxa não necessariamente reflete a remuneração recebida por quem concede um empréstimo.

Ficou confuso? Então você precisa ler este artigo. Ao longo dele responderei algumas das questões mais importantes para você saber o que são e como distinguir essas duas taxas de juros, incluindo:

  • O que é a taxa de juros nominal?
  • O que significa taxa de juros real?
  • Qual a diferença entre taxa nominal e taxa real?
  • Como calcular a taxa de juros nominal?
  • Como calcular a taxa de juros real?
  • Qual a taxa de juros real histórica do Brasil?
  • Qual o impacto da taxa de juros real nos investimentos?
  • Como investir de acordo com os juros reais?

Já adianto que tudo é mais simples do que parece. Inclusive, os próprios termos são quase autoexplicativos — uma vez que você os compreenda, dificilmente irá esquecê-los!

O que é a taxa de juros nominal?

Também chamada de taxa de juros aparente, a taxa de juros nominal é aquela que aparece declarada em um contrato ou investimento. Por exemplo, se você aplicasse em um Certificado de Depósito Bancário (CDB) que paga 100% do CDI — 13,5% ao ano em março de 2025 —, essa seria a taxa nominal do investimento. Ou seja, ao fim de um ano, o seu retorno seria de 13,5% sobre o valor investido. Simples, não é mesmo?

Mas atenção. Não é à toa que essa taxa também é cunhada como “aparente”. Apesar de o investimento prometer 13,5% ao ano, isso não significa que seu ganho real será exatamente esse. O que acontece?

A resposta está na inflação. Com o passar do tempo, o dinheiro perde poder de compra, e o retorno que parecia atraente hoje pode valer bem menos no futuro. Como diz o ditado, “as aparências enganam”. Por isso, para entender o que você realmente ganha, é preciso olhar para a taxa de juros real

O que significa taxa de juros real?

A taxa de juros real nada mais é do que a taxa nominal ajustada pela inflação. Em outras palavras, ela mostra o quanto um investimento realmente rendeu acima da inflação, ou seja, o ganho efetivo de poder de compra — daí o seu nome.

Por representar a diferença entre o rendimento bruto e a inflação acumulada no período, a taxa de juros real é o indicador mais relevante para medir o quanto um ativo de fato aumentou o patrimônio do investidor.

Qual a diferença entre taxa nominal e taxa real?

A taxa nominal é aquela estabelecida em um contrato e representa o rendimento bruto de um investimento. Já a taxa real corresponde à taxa nominal descontada da inflação.

Em outras palavras, a taxa nominal mostra o quanto o investidor aparentemente pode ganhar com uma aplicação. A taxa real, como o próprio nome sugere, revela o retorno verdadeiro, considerando o ganho efetivo de poder de compra ao fim do período.

Pode até parecer uma diferença sutil, mas não é. Um investidor menos atento pode acabar no prejuízo ao confundir essas taxas ou ao desconsiderar o efeito da inflação. Quer ver só?

Se um investimento tiver uma taxa nominal menor que a inflação acumulada, seu retorno real será negativo. Isso mesmo! No fim, teria, na prática, perdido dinheiro, já que o rendimento não teria sido o suficiente para compensar a perda do poder de compra.

É exatamente por isso que quem tem algum conhecimento maior sobre o mercado financeiro sabe que não vale a pena deixar dinheiro parado na caderneta de Poupança. A taxa de juros real desse investimento costuma ser muito baixa — e, em alguns casos, até negativa.

Para fechar este tópico, vale uma observação interessante. Em condições normais, a taxa nominal tende a ser maior do que a taxa real. No entanto, o contrário pode acontecer. Se o país estiver passando por um período de deflação, a taxa real será maior que a nominal. Já a igualdade entre as duas taxas é um cenário ainda mais raro, que só ocorreria se a inflação fosse exatamente 0% no período.

Como calcular a taxa de juros nominal?

Calcular a taxa de juros nominal é simples e pode ser feito de duas maneiras:

  1. A partir do montante final, para encontrar a taxa percentual.
  2. Utilizando a taxa percentual para descobrir o valor do rendimento.

No primeiro caso, a fórmula é a seguinte:

  • i = MC – 1 x 100

Onde:

  • i = taxa de juros nominal (%);
  • M = montante final (valor recebido);
  • C = capital inicial investido.

Como exemplo, imagine um investimento onde o capital aplicado foi de R$10.000, com retorno de R$12.000,00 ao fim de um ano. Nesse caso, a fórmula seria:

  • i = MC – 1 x 100
  • i = 12.00010.000-1 x 100
  • i = (1,2 -1) x 100
  • i = 0,2 x 100 = 20%

Portanto, a taxa de juros nominal desse investimento é 20%

Já para calcular o valor do rendimento a partir da taxa de juros percentual, fórmula utilizada é a seguinte:

  • J = C x i100

Onde:

  • J = rendimento obtido (juros ganhos);
  • C = capital investido;
  • i = taxa de juros nominal (em percentual).

Nos valendo dos mesmos dados do exemplo anterior, o cálculo agora ficaria assim:

  • J = 10.000 x 20100
  • J = 10.000 x 0,2
  • J = 12.000.

Logo, se um investidor aplicou R$ 10.000 a uma taxa de 20% ao ano, seu rendimento seria de R$2.000,00.

Como calcular a taxa de juros real?

Já para calcular a taxa de juros real é preciso descontar a inflação acumulada no período da taxa nominal. A fórmula utilizado para isso é a seguinte:

  • (1 + in) = (1 + r) x  (1 + j)

Onde: 

  • in = taxa de juros nominal;
  • j = taxa de inflação do período;
  • r = taxa real de juros.

Para facilitar a compreensão e a comparação, retomemos o exemplo anterior — um investimento de R$10.000 com uma taxa nominal de 20% ao ano. Agora, porém, vamos acrescentar a inflação para calcular a taxa de juros real. Para isso, consideremos um IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, um dos principais indicadores de inflação no Brasil) de 5,68%, conforme a projeção mais recente do mercado financeiro para 2025 (março).

Aplicando esses dados a fórmula:

  • (1 + in) = (1 + r) x  (1 + j)
  • (1 + 0,2) = (1 + r) x (1 + 0,0568)
  • 1,2 = (1 + r) x  1,0568
  • 1 + r = 1,201,0568
  • 1 + r 1,1354
  • r 0,1354 ou 13,54%.

Assim, a taxa real nesse caso é de 13,54%, consideravelmente menor que os 20% da taxa nominal.

Taxa de juros real histórica do Brasil

Se, nos últimos anos, você tem acompanhado o noticiário econômico, certamente já se deparou com manchetes que classificam o Brasil como um dos países com a maior taxa real de juros do mundo. Para ser mais preciso, atualmente (31 de janeiro de 2025), segundo dados da MoneyYou, ocupamos o topo do ranking com uma taxa real de 9,18%, sendo seguidos por Rússia (8,91%) e Argentina (6,14%). 

Curiosamente, quando considerada a taxa nominal de juros — medida aqui pela taxa Selic — o Brasil cai para o 4º lugar, com uma taxa de 13,25%.  À nossa frente estão, respectivamente: a Rússia (21%), a Argentina (29%) e a Turquia (45%).

Graças a uma Selic elevada e uma inflação relativamente controlada, a taxa real de juros atual está um pouco acima da média histórica observada ao longo do século XXI (7,41%), conforme levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que compilou a média desse indicador em períodos de sete anos:

PeríodoTaxa de juros real média
2000 a 200711,3% ao ano
2008 a 20175,2% ao ano
2018 a 20192,3% ao ano
2021 a 20228% ao ano

Esses elevados índices da taxa real de juros fazem com que, ao longo do tempo, os títulos de renda fixa atrelados à inflação sejam capazes, em certas situações, de superar os retornos de indicadores de renda variável, como o Ibovespa.

Qual o impacto da taxa de juros real nos investimentos?

A taxa de juros real indica quanto um investimento foi capaz de superar a inflação acumulada durante o período de manutenção. Em outras palavras, ela mostra o lucro real de um ativo, descontando a perda do poder de compra. Se o retorno de um investimento for inferior à inflação, o ganho real é negativo, ou seja, o investidor perde dinheiro.

Essa taxa também é importante ao rebalancear a carteira de investimentos, ajudando a ajustar a exposição à Bolsa de Valores ou à renda fixa. Por isso, quando a Selic cai, investidores migram para a renda variável em busca de maiores retornos — e o contrário também acontece.

Além disso, a taxa de juros real deve ser levada em consideração em planejamentos financeiros, especialmente para metas de longo prazo. Como o real tende a perder poder de compra ao longo dos anos, é essencial que o lucro real supere a inflação para que o patrimônio se mantenha protegido. Como exemplo, na última década, o real desvalorizou 43%. Ou seja, se um investimento não foi capaz de superar esse valor, resultou em prejuízo.

Como investir de acordo com os juros reais?

Saber investir de acordo com os juros reais pode ajudar a alocar seu dinheiro de forma mais eficiente. Afinal, se nenhum dos seus investimentos gerasse um ganho real, bastaria investir em títulos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA, para preservar seu poder de compra.

Em geral, investidores experientes seguem certos padrões em resposta às mudanças nos juros reais, o que pode servir de referência para você:

  • Juros reais altos: costumam ocorrer quando a Selic está em tendência de alta, tornando a renda fixa mais atrativa. Nesse cenário, títulos do Tesouro, CDBs e outros produtos de renda fixa, se tornam mais atrativos ao oferecer bons retornos e estabilidade;
  • Juros reais baixos: quando a Selic cai, os rendimentos da renda fixa tendem a diminuir. Com isso, investidores geralmente aumentam a exposição a ativos de maior risco, como ações e FIIs, em busca de retornos mais elevados.

Vale pontuar que essas são tendências gerais e não regras absolutas. Cada investidor deve tomar decisões com base no próprio perfil de risco, objetivos financeiros e horizonte de tempo.

Além disso, não se esqueça da importância da diversificação. Um portfólio equilibrado, com títulos atrelados à Selic e à inflação, além de investimentos em renda variável, ajuda a diluir riscos e aumenta as chances de obter retornos reais em diferentes cenários econômicos.

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Se ainda tem dúvidas sobre o mercado financeiro ou investimentos, já sabe onde encontrar as respostas. Nos vemos na Top!

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