Compreender e saber analisar os diferentes tipos de relatórios contábeis é uma tarefa essencial tanto para gestores, quanto para investidores. Uma vez que esses representam o desempenho econômico de uma empresa, sua leitura pode ser o diferencial na hora de escolher um novo título e ampliar uma carteira de ações.

Um dos mais populares e básicos desses relatórios é o custeio variável, cálculo que avalia parte dos custos necessários para produzir e lucrar em cima de um produto específico. Saber estipular os valores desse método é imprescindível para calcular, por exemplo, a margem de lucro e a capacidade financeira da empresa.

Curioso para saber como utilizar esse importante cálculo contábil em suas análises de investimento? Então, vem comigo! Neste artigo, te explicarei em detalhes como o custeio variável funciona, as diferenças entre ele e outros cálculos contábeis comuns, suas vantagens e limitações e muito mais.

O que é custeio variável?

O custeio variável, ou custeio direto, é um dos cálculos contábeis mais comuns utilizados para gerenciar custos produtivos, sobretudo, em empresas do setor de indústria e comércio. Assim, ele é, por consequência, um fator relevante para estipular a margem de lucro e a saúde financeira de uma companhia. 

Seu termo chega a ser auto-explicativo. Afinal, o custeio variável se baseia em uma separação entre os gastos fixos de operação e os custos que variam de acordo com determinado período e ou circunstância — importâncias que nem sempre precisarão ser pagas ou que, ao menos, não terão sempre os mesmos valores.

Ou seja, os custos fixos são aqueles que se mantêm constantes independente do ritmo de produção e de especificidades, tais como a inclusão de uma nova linha de produtos em um determinado catálogo. 

Por outro lado, os custos variáveis, são justamente o oposto: eles se focam somente em custos não recorrentes, originários de situações específicas e ou  atípicas.

Como exemplos de custos fixos comuns, é possível citar:

  • Aluguel de escritório;
  • Folha de pagamento;
  • Serviços de limpeza;
  • Serviços de internet;
  • Serviços de contabilidade.

Já como exemplos de custos variáveis, é possível citar:

  • Compra de insumos;
  • Bônus de produção;
  • Comissões de vendas;
  • Brindes e embalagens;
  • Eventos de lançamento ou ações de marketing.

Qual a principal característica do custeio variável?

A principal característica do custeio variável é justamente seu caráter mutável, atrelado às variações na produção e ou à inserção de novos produtos. 

Ao contrário dos custos fixos que não mudam — independentemente do volume de produção —, os custos variáveis acompanham o ritmo de vendas de uma empresa. Dessa forma, esses valores serão proporcionalmente maiores ou menores, de acordo com a quantidade produzida. 

Da mesma forma, a inclusão de uma matéria-prima diferente utilizada para uma nova linha específica de produtos, pode alterar os valores do custeio variável. 

        Vale destacar que o aumento dos custos variáveis nem sempre pode ser lido como um mau sinal. Afinal, um crescimento esporádico das vendas de um determinado item ou linha, pode incrementar os custos de produção. Porém, isso, obviamente, também acarreta em uma maior receita para a companhia.

Quais os outros cálculos de custos?

Apesar de ser um bastante simples e popular, o custeio variável não é o único cálculo contábil utilizado pelas companhias para mensurar os custos operacionais. Entre outros cálculos amplamente empregados pela contabilidade estão: o custeio por absorção e o custeio padrão. 

Curioso? Então, siga comigo, que já te explico qual a diferença entre cada um deles.

Qual a diferença entre custeio variável e custeio por absorção?

Também conhecido como custeio integral, o custeio por absorção é um método de gestão que calcula integralmente todos os gastos atrelados ao produto final. Em outras palavras, esse cálculo contábil inclui todos os custos envolvidos na produção, sejam eles estruturais ou operacionais, de natureza fixa ou variável, direta ou indireta.

Importante citar que esse é o único modelo aceito pela legislação brasileira para fins de publicação de relatórios contábeis. No entanto, para facilitar a gestão, muitas empresas o empregam em conjunto com outros tipos de cálculos.

Qual a diferença entre custeio variável e custeio padrão?

Outro método de gastos normalmente usado pelas empresas é o custeio padrão. Ao contrário dos demais, esse cálculo é feito antes mesmo de um novo artigo ser produzido. É, portanto, parte da análise e do planejamento de pré-produção.

Esse modelo se vale, fundamentalmente, dos dados apresentados por produtos semelhantes produzidos previamente. Ele considera, portanto, estimativas de gastos de produção e o percentual de lucro cogitado pela companhia para, estrategicamente, precificar um novo item. 

Quando usar o custeio variável?

Embora não possa ser legalmente utilizado por um contador na elaboração de uma demonstração de resultados para fins de publicação de relatórios contábeis de uma companhia, o custeio variável segue sendo uma ferramenta de grande valor para gerenciamento e análise.

Afinal, esse dado é peça-chave para se calcular a margem de contribuição da companhia, uma vez que auxilia na precificação dos produtos e aponta o quanto cada artigo em específico está colaborando para os rendimentos totais da companhia.

Para os gestores pode ser parte do demonstrativo de o quanto vale a pena, por exemplo, seguir trabalhando em determinada linha de produtos. Por meio desse cálculo, é possível estabelecer quais produtos, departamentos e clientes são mais lucrativos e o que investigar, caso os custos de produção apresentem alguma anomalia.

Para o investidor serve como mais um dado a ser observado na hora de analisar a saúde financeira e a eficiência produtiva de uma companhia na qual ele pretende investir. 

Como funciona o custeio variável?

O custeio variável é uma demonstração contábil que só leva em conta os custos variáveis apresentados no período analisado. Em outras palavras, esse valor está diretamente ligado ao volume e aos tipos de serviços e produtos desenvolvidos. 

Não são considerados, portanto, os gastos fixos comuns à qualquer categoria de empresa, como aluguel, folha salarial, serviços de internet, limpeza, segurança, entre outros.

Desse modo, para exemplificar o custeio variável, é preciso pensar em um determinado artigo em produção. 

Imagine, então, uma marca de moda que acaba de lançar uma nova linha de ternos. Nesse caso, o custo variável pode ser observado, por exemplo, nos botões ou, talvez, em algum tecido específico que só será utilizado na fabricação dessas peças.

Exemplo de custeio variável

Não há uma fórmula única para calcular o custeio variável. Na verdade, existem diferentes métodos e cálculos que podem ser utilizados para chegar nesse valor.

Independentemente do cálculo escolhido, identificar esses custos é fundamental para a gestão de uma companhia, bem como para analisar sua eficiência produtiva e lucratividade.

Esses são alguns dos métodos para calcular o custeio variável:

Método 1 

  • Primeiramente, é preciso identificar os custos fixos e variáveis dentro do período de tempo analisado;
  • Com isso feito, basta fazer a divisão do valor total das despesas variáveis pelo volume de produção.

Método 2

  • O primeiro passo aqui é identificar os custos mistos da empresa (ou seja, os custos gerais, sejam eles variáveis ou fixos);
  • Depois disso, é preciso medir a atividade e o custo produtivo;
  • Por fim, é calculada a proporção de despesas variáveis. 

Para isso, é necessário usar a seguinte fórmula:

VCR = C – c / P- p

Sendo:

  • C: custo dos meses de maior produtividade;
  • c: custo dos meses de menor produtividade;
  • P: o maior nível produtivo apresentado no período;
  • p: o menor nível produtivo apresentado no período.

Lembre que esses não são os únicos cálculos de custeio variável possíveis, mas fórmulas básicas que podem ser aplicadas em boa parte dos casos.

Método 3

Nesse modelo, é possível definir os resultados apresentados pela empresa, calculando o custeio variável.

Para isso, se faz necessário encontrar os seguintes valores:

  • Preço de venda (Pv);
  • Custo variável unitário (Cvu);
  • Despesa variável unitária (Dvu);
  • Custo variável (Cv);
  • Despesa variável (Dv);
  • Quantidade produzida (Qp);
  • Quantidade vendida (Qv);
  • Margem de contribuição (Mc)
  • Despesas fixas (Df);
  • Custos fixos (Cf);
  • Receita (R).

Nesse cenário, é preciso realizar uma série de equações básicas para concluir o demonstrativo de resultado (Dr) variável.

As equações são as seguintes:

  • Receita: Qv x Pv;
  • Custo variável: Qv x Cvu;
  • Despesa variável: Qv x Dvu;
  • Margem de contribuição: R – Cv – Dv;
  • Custo fixo: soma de todos os custos fixos;
  • Despesas fixas: soma de todas as despesas fixas;
  • Lucro operacional: Mc – Cf – Despesa Fixa.

A título de exemplo, considere os seguintes valores:

  • Pv: 20;
  • Cvu: 4;
  • Dvu: 1;
  • Qp: 2.500;
  • Qv: 1.500;
  • Df: 2.000;
  • Cf: 500.

Agora, basta aplicar os dados às fórmulas:

R = 1.500 x 20 = R$ 30.000,00

Cv = 1.500 x 4 = R$ 6.000,00

D = 1.500 x 1 = RS 1.500,00

Mc = 30.000 – 6.000 – 1.500 = R$22.500,00

Lo = 22.500 – 2.000 – 500 = R$ 20.000

Dessa forma, por meio da aplicação do custeio variável é possível deduzir que o hipotético produto analisado gerou um lucro de R$20.000,00.

Quais as vantagens e as desvantagens do custeio variável?

Como demonstrado, o custeio variável não é o único cálculo contábil existente. Logo, não deve ser a única fórmula aplicada para atestar a eficiência produtiva ou a saúde financeira de uma empresa. 

Tendo isso em mente, é necessário estar ciente de que assim como qualquer outra fórmula financeira, esse método tem suas vantagens e suas limitações. Compreendê-las é, dessa forma, essencial para se fazer uma análise bem direcionada.

Vantagens do custeio variável

  • Descoberta da margem operacional: esse método pode ser usado para descobrir a margem operacional. Auxiliando assim, a tarefa de precificar um novo artigo, com base na sua contribuição para os resultados totais da companhia; 
  • Simplicidade: é um cálculo básico que pode ser feito sem grande problema, apenas com dados divulgados na Demonstração de Resultado de Exercício (DRE);
  • Dados pragmáticos: o método esclarece quais os custos operacionais de cada produto. Permitindo assim, verificar quais apresentam maiores lucros, bem como quais representam custos anormais.

Desvantagens do custeio variável

  • Curto prazo de vida: por considerar tão somente os custos variáveis atrelados à situações específicas, esse cálculo não pode ser utilizada em análises de longo prazo;
  • Não é um demonstrativo legal: esse cálculo não é aceito pela legislação brasileira como demonstrativo contábil. 

Como analisar o custeio variável?

Fácil de ser realizado e apresentando resultados objetivos, o cálculo de custeio variável pode ser uma ferramenta muito útil para investidores na hora de analisar a saúde financeira de uma companhia. 

Ao dividir os custos entre variáveis e fixos, o custeio variável apresenta um panorama claro dos ganhos e dos gastos da companhia. Além disso, como já dito, por meio desse dado é possível calcular a margem de contribuição. Ou seja, qual a contribuição representativa de cada produto para cobrir os custos fixos da empresa e ainda apresentar lucros.

  Para colocar esse cálculo em prática, basta acessar as demonstrações contábeis das empresas listadas na bolsa de valores e buscar a DRE da empresa que se pretende analisar.

Nesse documento, é possível observar quais foram as despesas operacionais e os custos de bens e serviços vendidos no trimestre (ou seja, os custos variáveis da companhia). Possibilitando assim, que você compare as receitas da empresa, para tomar a decisão de investir nela ou não.

Entendeu como o custeio variável funciona?

Ao compreender o custeio variável, você tem em mãos mais um indicador de desempenho para analisar uma empresa e ajudar os seus futuros clientes. Entretanto, como eu já te expliquei várias vezes por aqui, essa é apenas uma peça de um quebra-cabeça gigante.

Por isso, se você quer continuar estudando e aprendendo de uma forma que realmente vá trazer resultados para a sua vida profissional, eu te aconselho a conferir o canal da TopInvest no YouTube! Por lá, publicamos vídeos todas as semanas sobre certificações e mercado financeiro. 

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