Além dos tributos, quem investe em fundos de investimento (FIs) ou clubes de investimento também precisa ficar atento a duas taxas importantes:
- Taxa de administração: cobrada pela instituição financeira responsável pelo fundo, remunera os serviços de gestão, controle e operação;
- Taxa de performance: uma bonificação paga ao gestor quando o fundo apresenta um desempenho acima do esperado.
A taxa de administração é um custo presente em todos os fundos — embora o valor varie bastante de um para outro. Já a taxa de performance é facultativa cobrada em alguns fundos de gestão ativa, aqueles em que o gestor busca superar o mercado através da escolha estratégica dos ativos.
Mas afinal, como saber se um fundo realmente teve bom desempenho e se essa taxa deve ser cobrada?
É justamente aí que entram os dois conceitos centrais deste artigo: o benchmark e a linha d’água, que ajudam a medir e comparar resultados de forma justa e transparente.
Essa taxa representa uma porcentagem
Quer entender melhor como tudo isso funciona? Então, olha só o que vais aprender hoje:
- O que é benchmark?
- Como funciona o benchmark?
- Quais são os benchmarks mais usados?
- Como os benchmarks são definidos?
- O que é linha d’água?
- Como funciona a linha d’água?
- Como a linha d’água é definida?
- Qual a relação entre a taxa de performance e linha d’água?
- Vale a pena investir em fundos que cobram taxa de performance?
Bora compreender juntos esses conceitos tão importantes para quem investe ou estuda fundos de investimento?
O que é benchmark?
Benchmarks, ou índices de referência em português, é como são chamados os padrões utilizados para mensurar o desempenho de uma carteira ou fundo de investimento.
Se a adaptação em português é mais literal, a origem do termo original em inglês é um pouco mais curiosa. Ele resulta da junção de duas palavras:
- “Bench” = banco, base, superfície;
- “Mark” = marca, sinal.
Originalmente, benchmark era usado na cartografia e engenharia, para indicar um ponto fixo de referência em medições topográficas — uma marca gravada em pedra ou metal que servia como base para medir altitudes e distâncias.
Com o tempo, porém , o termo passou a ser empregado também em áreas como negócios, tecnologia e, claro, finanças, sempre com o mesmo sentido:
Um ponto de referência usado para comparar desempenhos.
No mercado financeiro, o benchmark serve como régua para o trabalho dos gestores: mostram se o profissional superou, igualou ou ficou abaixo do desempenho médio do mercado.
Em fundos que cobram taxa de performance, o gestor precisa superar o benchmark definido para receber sua bonificação. Caso contrário, o cotista paga apenas a taxa de administração.
Como funciona o benchmark?
Os benchmarks de renda fixa refletem o comportamento médio das taxas de juros praticadas no mercado, como a Selic e a DI.
Já os índices de mercado (como o Ibovespa, para ações, e o IFIX, para fundos imobiliários) acompanham a evolução do valor de carteiras teóricas desses ativos.
Essa informação pode ser utilizada para diferentes fins:
- Ter uma referência: se eu invisto em um CDB, como saber se ele está rendendo bem? Comparando-o com o DI, que serve como referência de rendimento;
- Calcular a rentabilidade relativa: permite mensurar a diferença de desempenho entre um investimento ou carteira e o índice de referência, ajudando a avaliar se o resultado está acima ou abaixo da média do mercado;
- Calcular a taxa de performance em fundos de investimento: a taxa de performance, cobrada por alguns fundos, é baseada no quanto o fundo supera o seu benchmark. Sem um índice de referência, não seria possível medir esse “excesso de retorno”.
Além disso, os índices de mercado são utilizados como base pelos chamados fundos de investimento passivos — aqueles que não buscam superar o mercado, mas replicam a carteira de um índice para acompanhar o seu desempenho.
Quais são os benchmarks mais usados?
Cada tipo de ativo tem seus próprios benchmarks, que servem como parâmetro para comparar resultados e avaliar se a aplicação está rendendo bem.
Na renda fixa, os benchmarks mais utilizados são:
- Taxa DI (ou CDI): referência para a maioria dos investimentos de renda fixa, como CDBs e fundos DI;
- Taxa Selic: usada para títulos públicos;
- Taxa PTAX: taxa média de câmbio do dólar, importante para investimentos atrelados à moeda estrangeira;
- IPCA: índice de inflação oficial do Brasil, usado para títulos e fundos que buscam rentabilidade real;
- IGP-M: índice de preços amplo, utilizado principalmente em contratos de aluguel e alguns títulos de renda fixa.
Já na renda variável, os benchmarks mais comuns são:
- Ibovespa: principal índice da bolsa brasileira, representando as ações mais negociadas;
- IBrX 100: mede o desempenho das 100 ações mais negociadas na B3;
- IBrX 50: mede o desempenho das 50 ações mais negociadas na B3;
- IFIX: índice dos fundos imobiliários mais relevantes do mercado.
Para quem investe no exterior, os benchmarks mais comuns incluem:
- S&P 500: carteira formada pelas 500 maiores empresas negociadas nas bolsas norte-americanas;
- Dow Jones Industrial Average: média das 30 companhias com maior capitalização da NYSE;
- Nasdaq Composite: mede o desempenho de cerca de 3.500 empresas listadas na Nasdaq;
- Nasdaq-100: 100 maiores companhias de tecnologia negociadas na Nasdaq;
- Russell 3000: 3.000 empresas mais valiosas do mercado acionário dos EUA;
- Russell 1000: 1.000 maiores empresas que formam o Russell 3000;
- MSCI World Index: 1.600 maiores empresas do mundo, distribuídas em bolsas de 20 países desenvolvidos.
Muito importante: não misture alhos com bugalhos. Para comparações justas, nunca, em hipótese alguma, utilize um benchmark de renda variável para mensurar o desempenho de ativos de renda fixa — e vice-versa.
Benchmarks por tipo de fundo
Como existem diferentes tipos de fundos de investimento, os benchmarks também variam de carteira para carteira:
| Tipo de Fundo | Benchmark | Observações |
| Fundos de Investimento de Inflação | IMA-B | Reflete o desempenho de títulos públicos indexados à inflação. |
| Fundos de Investimento de Renda Fixa | DI / Selic | Serve como referência para fundos que aplicam principalmente em títulos de renda fixa; mede se o fundo supera a taxa de juros do mercado. |
| Fundos de Investimento Multimercado | DI ou outro índice apropriado | Depende da estratégia do fundo; pode incluir ações, câmbio ou derivativos. O benchmark precisa refletir o perfil de risco da carteira. |
| Fundos de Investimento em Ações (Passivo) | Ibovespa | Objetivo de replicar o índice de ações mais negociadas do mercado. |
| Fundos de Investimento em Ações (Ativo) | IBrX 50 / Ibovespa | O gestor busca superar o índice; pode usar o IBrX 50 ou o Ibovespa como referência, dependendo da estratégia. |
| Fundos de Investimento Imobiliário | IFIX | Reflete o desempenho dos principais fundos imobiliários negociados. |
Como os benchmarks são definidos?
Tanto para renda fixa quanto para renda variável, o cálculo do benchmark é feito pela média ponderada — ou seja, cada ativo tem um peso distinto, e alguns influenciam mais o índice do que outros.
Por exemplo, no IFIX (índice dos principais FIIs negociados na B3), cada fundo tem peso proporcional ao seu valor de mercado. Ou seja, quanto maior o tamanho do fundo, maior sua influência no índice.
Se um fundo tem peso de 50%, significa que metade do valor total do índice está alocado nele. Consequentemente, uma variação no preço desse fundo afeta muito mais o IFIX do que a mesma variação em um fundo menor.
Exemplo de cálculo de benchmark
Para facilitar, imagine que a carteira do IFIX seja constituída apenas pelos três fundos abaixo:
| Fundo | Valor de mercado (R$) | Participação no índice | Variação no período |
| FII Alfa | 5.000.000.000 | 50% (0,50) | +2,0% |
| FII Beta | 3.000.000.000 | 30% (0,30) | +2,0% |
| FII Gama | 2.000.000.000 | 20% (0,20) | – 2,1% |
| Total | 10.000.000.000 | 100% (1,00) | — |
Com os dados em mão, o primeiro passo é multiplicar a variação de cada fundo pelo seu peso no índice:
- Alfa: +2,0% x 0,50% = +1,00%
- Beta: +2,00% x 0,30% = +0,6%
- Gama: -2,1% x 0,20% = -0,42%
O segundo passo é somar os resultados:
- Variação do Ifix = 1,0% + 0,6% – 0,42% = 1,18%
Agora é só aplicar a variação ao valor do índice. A título de exemplo, considere que o Ifix estava em 3.200 pontos ontem. Hoje, ele estaria em:
- IFIX = 3.200 x (1 + 0,0118) = 3.237,76
Ou seja, o IFIX subiu para 1,18% no período.
Interpretando o resultado, é possível notar que:
- Embora o FII Gama tenha caído mais que os outros fundos, sua influência foi menor devido ao peso menor no índice;
- Por outro lado, Alfa e Beta subiram o mesmo percentual, mas o Alfa teve maior impacto, pois representa metade do valor total da carteira.
Esse exemplo ilustra claramente como o peso de cada fundo determina sua influência sobre o IFIX e, consequentemente, sobre o cálculo do benchmark.
Próximo passo: tudo entendido até aqui? Então agora é hora de conhecer o que é linha d’água e como esse conceito se relaciona com o benchmark e a taxa de performance cobrada em alguns fundos de investimento.
O que é linha d’água?
A linha d’água ou marca d’água (high-water mark) representa o desempenho mais alto já alcançado por um fundo — seu recorde.
Ela é usada como referência para a taxa de performance, garantindo que o gestor só cobre a taxa sobre o que exceder esse valor máximo anterior, evitando cobranças sobre resultados já obtidos.
Como funciona a linha d’água?
Quando o fundo supera o índice de referência pela primeira vez, a taxa de performance é cobrada sobre o lucro que excede o benchmark.
Para cobrar a taxa novamente, o fundo precisa ultrapassar a linha d’água anterior — ou seja, bater seu próprio recorde de desempenho.
Exemplo:
- Um fundo acompanha o Ibovespa e cobra taxa de performance sobre o que exceder o índice;
- A cota sobe de R$100 para R$120 → o gestor recebe a taxa de performance sobre os R$20 de lucro;
- Depois, a cota cai para R$110, não há nova cobrança até que a cota volte a ultrapassar os R$120 (linha d’água anterior);
- Se a cota subir para R$125, a taxa é cobrada apenas sobre os R$5 que excedem os R$120.
A taxa de performance geralmente é cobrada semestralmente ou conforme o regulamento do fundo
Como a linha d’água é definida?
Inicialmente, a linha d’água corresponde ao próprio benchmark — ou seja, é o valor que o fundo precisa alcançar.
Quando o fundo rompe o benchmark, a linha d’água é atualizada e passa a marcar o maior desempenho já atingido.
A partir daí, para que o gestor seja bonificado pela taxa de performance, o fundo precisa superar continuamente sua própria melhor marca, garantindo que a cobrança seja justa e baseada em resultados superiores ao recorde anterior.
Qual a relação entre a taxa de performance e linha d’água?
A relação é bastante simples: a taxa de performance só é cobrada se o desempenho do fundo superar a linha d’água.
No início, quando o fundo ainda não tem histórico de performance acima do benchmark, a linha d’água é o próprio índice de referência.
Depois que o fundo supera o benchmark pela primeira vez, a linha d’água passa a ser o novo recorde de rentabilidade — e é a partir dela que se calcula a taxa de performance.
Por exemplo, mesmo que um fundo de ações supere o Ibovespa, só há cobrança de taxa se ele também estiver acima da sua própria melhor marca.
Em resumo, para que o gestor receba a taxa de performance, ele precisa atingir duas metas:
- Superar o benchmark; e
- Superar a linha d’água.
Vale a pena investir em fundos que cobram taxa de performance?
Se há fundos ativos que cobram taxa de performance e outros que não, parece lógico evitar os que cobram, certo? Errado!
É comum pensar que, por ser uma cobrança a mais, pagar essa taxa é um mau negócio — mas não é bem assim. A taxa de performance funciona como um incentivo para que o gestor continue superando a linha d’água e entregando bons resultados.
Nesse sentido, quanto mais constante a incidência da taxa, melhor. Se ela está sendo cobrada, é sinal de que o gestor está trabalhando bem — o fundo está crescendo e gerando valor para os cotistas.
Vale lembrar que a taxa de performance só incide sobre o valor que excede o índice de referência. Em um fundo que supera o IFIX em 10%, por exemplo, o cálculo é feito apenas sobre esse “excesso”.
Por exemplo: imagine que você investiu em um fundo que cobra taxa de performance de 20%. O benchmark é o Ibovespa, que rendeu 5%, enquanto o seu fundo rendeu 10% no mesmo período.
Nesse caso:
- A taxa de performance será cobrada apenas sobre os 5% excedentes;
- Desses 5%, 20% (equivalente a 1%) ficam com o gestor;
- E os 80% restantes (4%) ficam com você.
Nada mal, né?
Mas atenção: nem sempre pagar mais significa ganhar mais.
Entre um fundo com taxa de performance e outro sem, mas com histórico de desempenho semelhante, o segundo tende a ser mais vantajoso. Afinal, tanto a taxa de administração quanto a taxa de performance reduzem o retorno líquido do investidor.
Por fim, mas não menos importante, vale destacar que a taxa de performance varia de fundo para fundo, podendo chegar, no máximo, a 20% sobre o lucro excedente.
Quer aprender mais sobre Fundos de Investimento?
Uma coisa leva à outra: taxa de performance, linha d’água, benchmark e fundos ativos são conceitos que andam sempre juntos. Assim, entender, mas não os demais, é apenas entender pela metade.
Se você está se preparando para a certificação da Anbima, atenção: Fundos de Investimento são um dos módulos de maior peso na prova. Então, salve este artigo e volte a ele sempre que precisar revisar o conteúdo.
E claro — se ainda restar alguma dúvida sobre fundos ou qualquer outro tipo de investimento, passe no blog da TopInvest ou visite nosso canal no YouTube. Com certeza você vai encontrar as respostas que procura.
Até a próxima!
Comentários
Olá Maria, tudo certo? Atualizamos o post e identificamos melhor o que seria o linha d'agua. Agradeço seu feedback Maria. Abraço!