Você já fez uma compra online e recebeu um produto diferente do esperado ou, pior, ficou sem sua encomenda? Ou talvez tenha vendido algo e, no final, o comprador não pagou no prazo ou no valor combinado? É um risco que todos corremos, certo?

No mercado financeiro, existe um risco semelhante, chamado risco de liquidação. Menos comentado que o risco de crédito, de mercado ou seu “quase xará” risco de liquidez, o risco de liquidação é, em poucas palavras, a chance de que uma transação não ocorra como planejado.

Quer entender mais sobre o assunto? Então vem comigo, que neste artigo explicarei tudo o que você precisa saber para entender o risco de liquidação e como ele pode afetar os investimentos. Entre outras questões, responderei:

  • O que é liquidação?
  • O que é risco de liquidação?
  • Quais são os tipos de risco de liquidação?
  • O que significa quando o investimento está em liquidação?
  • Em quais situações o risco de liquidação pode ocorrer?
  • Qual a diferença entre risco de liquidação e de liquidez?
  • Quando ocorre o risco de liquidez?
  • Quais são os exemplos de risco de liquidez?
  • Quais são as consequências do risco de liquidação?
  • Como o risco de liquidação pode afetar os investidores?

Vamos aprender a identificar e lidar com esse risco?

O que é liquidação?

O substantivo liquidação pode ter diferentes significados, dependendo do contexto. No vocabulário de finanças, refere-se ao cumprimento das obrigações entre as partes envolvidas, realizado por meio da transferência de ativos ou do pagamento das diferenças.

Em outras palavras, é a etapa final de uma operação de ativos — o momento em que a posse e ou valores são efetivamente transferidos. Esse processo pode ocorrer em duas situações:

  • Encerramento de empresa: processo de fechar a companhia e distribuir seus ativos entre credores, investidores e fornecedores;
  • Fechamento de posição em títulos: ato de vender títulos ou outros ativos para receber o valor em dinheiro.

Até aqui, tudo claro? Então bora entender o que é o risco de liquidação e quando ele ocorre.

O que é risco de liquidação?

O risco de liquidação é a possibilidade de que uma transação financeira não seja concluída conforme o acordado, seja pela não entrega do ativo, seja pelo não pagamento dos valores devidos. Em outras palavras, é o risco de que a liquidação — etapa final de uma negociação — falhe parcial ou totalmente.

Para ficar mais claro, vale aqui detalhar como esse risco acontece no caso de liquidação societária (fechamento de empresa) e em liquidações de operações no mercado financeiro. Olha só:

Fechamento de empresa (liquidação societária)

Quando uma empresa entra em insolvência ou decide encerrar suas atividades, os ativos remanescentes são vendidos e os recursos obtidos são utilizados para pagar credores e acionistas, obedecendo uma ordem de prioridade.

Normalmente, recebem primeiro os credores garantidos (bancos e financiadores), depois fornecedores, em seguida detentores de títulos, e por último os acionistas. 

Quem está nas últimas posições pode não receber nada se os ativos não forem suficientes. Ou seja, quanto mais distante nessa fila, maior o risco de liquidação.

Liquidação de operações no mercado financeiro

Neste caso, o risco de liquidação ocorre quando, após a compra e venda de ativos financeiros (ações, títulos, derivativos etc.), uma das partes não entrega o ativo negociado ou não efetua o pagamento devido. As causas podem incluir

  • Problemas operacionais ou tecnológicos;
  • Falhas nos sistemas de compensação e liquidação;
  • Insolvência da contraparte;
  • Interrupções por eventos externos (como crises financeiras ou restrições regulatórias).

Cabe destacar que, no mercado de capitais, a liquidação de ativos passa pelas chamadas clearing houses — ou “câmaras de compensação”, em português. Essas instituições atuam como intermediárias entre compradores e vendedores, validando as informações e garantindo que a negociação seja concluída conforme as condições e prazos estabelecidos.

Entre suas funções, está verificar se o ativo negociado existe, se pertence a quem o está vendendo e se o comprador possui os recursos necessários para efetuar a transação. 

Quais são os tipos de risco de liquidação?

O risco de liquidação é a possibilidade de que uma operação de transferência de ativos ou recursos não seja concluída conforme o acordado. Esse risco pode ser categorizado em, ao menos, dois tipos principais: o risco de contraparte e o risco operacional. Abaixo explico melhor cada um deles:

Risco de contraparte

Ocorre quando a outra parte em uma negociação — seja a responsável por transferir o ativo ou efetuar o pagamento — não cumpre com sua obrigação, total ou parcialmente.
Isso pode acontecer por insolvência, falta de recursos, quebra ou simples descumprimento do acordo. É o popular “calote”.

Nota: na renda variável, derivativos e outros contratos, chamamos de risco de contraparte. Na renda fixa, o conceito equivalente é conhecido como risco de crédito, pois está associado à possibilidade de o emissor do título não honrar seus compromissos.

Como vimos, as clearing houses servem justamente para reduzir esse risco, atuando como intermediárias que verificam as condições das transações e garantem a conclusão conforme acordado.

Risco operacional

Mesmo com a mitigação do risco de contraparte pelas clearing houses, as operações financeiras ainda podem ser comprometidas por falhas técnicas ou humanas, sem culpa das contrapartes. Essa possibilidade é justamente o que chamamos de risco operacional.

Ele inclui problemas nos sistemas de compensação e liquidação, erros humanos ou falhas mecânicas que possam atrasar ou impedir a conclusão de uma negociação.

O que significa quando o investimento está em liquidação?

Quando um investimento está em liquidação, isso significa que a operação de compra ou venda já foi executada no mercado, mas o dinheiro e os ativos correspondentes ainda estão no processo formal de transferência entre as partes.

Dito de modo mais simples: o negócio já foi feito, mas os ativos ainda não foram entregues ao destinatário, e o dinheiro ainda não caiu na conta do vendedor.  

No mercado financeiro, existe um prazo entre a data da operação (D0) e a data em que o ativo muda de mãos. Esse tempo é, como você deve ter deduzido, o período de liquidação e varia de acordo com o tipo de investimento, por exemplo:

Tipo de investimentoPrazo de liquidaçãoDetalhes
Títulos Públicos (Tesouro Direto)D+1Compra: o título entra na custódia no próximo dia útil.Venda (resgate antecipado): dinheiro cai na conta no próximo dia útil.
AçõesD+2Dois dias úteis para o dinheiro ser creditado ao vendedor e as ações transferidas para a custódia do comprador.
Fundos de InvestimentoVariaPrazo definido no regulamento, podendo ser de poucos dias até D+15 ou D+30, dependendo do fundo.

E onde ficam o dinheiro e os ativos nesse meio tempo?
Se pensou na clearing house (câmara de compensação), acertou. É essa instituição que mantém os ativos e valores “em custódia temporária”, garantindo que:

  • o ativo não seja vendido duas vezes;
  • e que não seja retirado antes do pagamento.

Durante a liquidação, o ativo fica congelado — ou seja, fora da sua custódia e indisponível para negociação. Se você vendeu ações, por exemplo, elas são bloqueadas e enviadas à câmara de compensação. Se comprou, o valor correspondente é bloqueado na sua conta.

A clearing então faz o “casamento” das operações e coordena a transferência simultânea: no prazo definido (D+1 para títulos públicos, D+2 para ações, etc.), o ativo vai para a carteira do comprador, e o dinheiro cai na conta do vendedor.

Em quais situações o risco de liquidação pode ocorrer?

O risco de liquidação aparece quando uma das partes não consegue cumprir integralmente com sua obrigação dentro do prazo determinado. Isso pode acontecer em diferentes situações, por exemplo:

Falha de pagamento

A falha de pagamento ocorre quando o investidor compra algum título, mas não possui saldo suficiente em conta na data de liquidação.

Esse tipo de risco é  minimizado pela câmara de compensação, que bloqueia previamente os recursos necessários antes da liquidação, para assegurar o pagamento.

Falha de crédito

A falha de crédito acontece quando a contraparte perde a capacidade financeira de honrar com o compromisso, seja por insolvência ou default. Por exemplo, a corretora que intermedia a negociação entra em falência antes da operação ser liquidada. 

Para evitar esse tipo de situação, a clearing house mantém sistemas de garantia, como fundos de liquidação, colaterais e mecanismos de substituição de contraparte.

Evento de mercado

Os eventos de mercado abrangem qualquer ocorrência externa capaz de afetar o funcionamento regular do mercado, atrasando ou inviabilizando a liquidação. Pode acontecer, por exemplo, caso haja suspensão das negociações na bolsa por crise sistêmica

Nesse caso, a câmara de compensação aciona procedimentos de contingência, adia de forma controlada as liquidações e centraliza a gestão de risco para preservar a estabilidade do sistema.

Falha de liquidez

A liquidez representa a facilidade de transformar um ativo em dinheiro. Esse tipo de falha é, portanto, a possibilidade de uma das partes não conseguir vender ativos ou obter os recursos necessários rápido o suficiente para cumprir com sua obrigação no negócio.

Essa situação pode ocorrer, por exemplo, caso um fundo de investimento precise pagar resgates, mas não consiga vender os ativos necessários para juntar esse valor a tempo. É exatamente por isso que fundos costumam ter prazos de liquidação maiores: isso dá tempo para que o gestor reúna o valor necessário sem desestabilizar o fundo, especialmente em resgates significativos.

Além de prazos mais longos, esse risco também pode ser reduzido pela manutenção de reservas de caixa, diversificação de ativos e, em alguns casos, linhas de crédito de emergência.

Fraude

Por fim, a fraude acontece quando uma das partes age de má-fé, de forma deliberada, com a intenção de enganar ou prejudicar a outra. Exemplos incluem a venda de ativos inexistentes ou o desvio de recursos.

Nesse caso, a clearing house atua para auditar a operação, verificando a titularidade do ativo, confirmando a existência dos recursos e monitorando todo o fluxo da transação. Além disso, implementa controles internos rigorosos, exige garantias e utiliza sistemas de verificação automatizados para detectar inconsistências.

Qual a diferença entre risco de liquidação e risco de liquidez?

Os termos podem até ser parecidos, mas liquidação e liquidez não significam a mesma coisa e, por isso, representam riscos diferentes para o investidor.

Para evitar confusão, primeiro vamos explicar o que significam esses termos:

  • Liquidação: é a etapa final de uma operação financeira, quando o ativo é enviado ao comprador e o dinheiro ao vendedor;
  • Liquidez: é a capacidade de transformar um bem em dinheiro.

Portanto:

  • Risco de liquidação: possibilidade de que, por algum motivo, a negociação não se concretize como combinado. Que o ativo não seja entregue ou que o pagamento não seja efetuado dentro do prazo ou nas quantias acordadas entre as partes;
  • Risco de liquidez: representa o grau de dificuldade de obter o retorno desejado ao vender um ativo. Ou seja, a chance, em caso de urgência, de ter que negociá-lo por um valor abaixo do esperado ou mesmo inferior ao valor pelo qual foi adquirido.

Diferenças explicadas, permita-me aproveitar a deixa para explicar um pouco mais sobre risco de liquidez: quando ocorre e principais exemplos.

Quando ocorre o risco de liquidez?

O risco de liquidez acontece quando o investidor enfrenta problemas para vender um ativo pelo seu preço justo e no momento desejado. Em outras palavras, quando há dificuldade de encontrar compradores interessados, seja pelo excesso de oferta, pela falta de demanda ou com alto valor unitário.

O risco de liquidez costuma ser dividido de forma simples em duas categorias, que medem o grau de dificuldade de vender os ativos:

  • Ativos com alto risco de liquidez: são aqueles que dificilmente encontram compradores rapidamente. Nessas situações, vender pode exigir desconto significativo no preço ou mais tempo até a negociação ser concluída;
  • Ativos com baixo risco de liquidez: são aqueles facilmente negociáveis. Esses ativos podem ser vendidos rapidamente pelo preço de mercado, com pouca ou nenhuma perda de valor.

Quais são os exemplos de risco de liquidez?

Como vimos acima, os investimentos podem apresentar diferentes níveis de risco quando comparados entre si. Para alguns, esse risco é bastante baixo, como é o caso dos títulos públicos — que possuem liquidez diária —, das ações de grandes empresas ou das cotas de fundos muito demandados.

Mas e os ativos com maior risco de liquidez, nos quais os investidores precisam ter mais cuidado? Abaixo, cito cinco exemplos. Olha só:

Imóveis

Os imóveis costumam ser o primeiro exemplo que vem à mente quando se fala em risco de liquidez. Isso se explica, principalmente, por seu alto valor unitário. Afinal, sejamos honestos: nem todo mundo tem R$300 mil, R$500 mil ou R$1 milhão disponíveis em conta.

Por isso, ao serem colocados à venda, podem levar meses — ou até anos — para encontrar um comprador disposto e com recursos suficientes para fechar negócio. Nesse período, se houver urgência para obter o dinheiro, é bem provável que seja necessário reduzir o preço pedido para atrair interessados.

Ativos ilíquidos

São ativos que, por sua natureza, possuem demanda limitada. Aqui entram, por exemplo, participações em empresas fechadas, direitos sobre patentes, obras de arte, antiguidades e artigos de luxo.

Como têm baixo volume de negociação, encontrar compradores para esse tipo de ativo pode levar muito tempo, aumentando o risco de fechar negócio por um valor inferior ao justo.

Ativos de nicho

São aqueles que despertam interesse apenas de um público muito específico. Assim, mesmo que possuam bom valor de mercado, sofrem com a limitação no número de potenciais compradores. Exemplos incluem artigos colecionáveis raros, carros clássicos e outros itens altamente segmentados.

Ativos alavancados

Ativos alavancados são investimentos adquiridos com o uso de dívida ou margem. Nesse caso, a liquidez costuma ser comprometida, já que é preciso quitar essas obrigações antes da venda.

Em momentos de urgência ou alta volatilidade, a pressão por liquidar pode levar a vendas forçadas por valores abaixo do esperado — muitas vezes resultando em prejuízo.

Ativos em declínio

Ninguém gosta de vender na baixa, mas, quando um ativo está em queda contínua o investidor precisa saber a hora de abandonar o barco.  Isso acontece, por exemplo, com ações de empresas em crise ou setores em retração.

Nessa situação, além da dificuldade de encontrar interessados, o tempo joga contra: quanto mais o preço cai, maior o prejuízo potencial.

Quais são as consequências do risco de liquidação?

O risco de liquidação pode gerar uma série de consequências para o investidor. Entre as principais, destacam-se:

  • Atrasos no recebimento de recursos ou ativos: quando a liquidação não ocorre no prazo, o planejamento financeiro pode ser prejudicado, impedindo o uso dos recursos para outras finalidades;
  • Perda de oportunidade: se o dinheiro esperado não estiver disponível no momento certo, o investidor pode perder chances fortuito de aproveitar oportunidades de mercado mais rentáveis;
  • Perda de reputação: investidores ou instituições com falhas recorrentes de liquidação podem ter sua imagem comprometida perante contrapartes e intermediários de mercado;
  • Exposição às variações do mercado: enquanto a liquidação não é finalizada, o valor do ativo ou da moeda envolvida na negociação pode oscilar, afetando os ganhos esperados;
  • Aumento de custos: em alguns casos de atraso, a contraparte ou a câmara de compensação podem aplicar multas, juros diários ou tarifas adicionais para compensar o tempo perdido e cobrir riscos.

Como o risco de liquidação pode afetar os investidores?

Os investidores podem ser afetados de diferentes maneiras quando uma operação não se concretiza em tempo. O risco de rentabilidade pode, por exemplo:

  • Reduzir a rentabilidade esperada;
  • Comprometer o planejamento e adiar objetivos; 
  • Prejudicar o fluxo de caixa;
  • Levar a perdas de oportunidades;
  • Gerar insegurança nas operações e;
  • Levar a escolhas mais conservadoras de investimento.

Desde um ponto de vista mais amplo, o risco de liquidação pode comprometer a confiança no mercado, afastando novos investidores. É justamente aí que entra a importância das já citadas clearing houses. Agindo nos bastidores, ao assegurar o cumprimento das obrigações das partes em cada operação, essas instituições contribuem para fazer do mercado financeiro um ambiente mais sólido e confiável.

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