Você já se perguntou: “E se?”
Sei que sim.

É o tipo de questionamento incômodo que todo mundo já fez — seja ao tomar uma decisão, ou ao se perder em devaneios sobre a vida.
“E se eu tivesse escolhido diferente?”

“E se eu me arrepender?”
“E se essa não for a melhor decisão?”

Acontece que, desde de as pequenas escolhas do dia a dia — acordar mais cedo, ir à academia, assistir a um filme — às grandes decisões da vida — escolher uma profissão, mudar de cidade, ter filhos — estamos sempre optando por algo e deixando outras possibilidades para trás. Ao escolher uma coisa, abrimos mão de outras.

Esse é o preço — ou o peso — da liberdade. Esse sentimento é universal. Acontece em todos os momentos — inclusive nas finanças. A diferença é que, nesse campo, ele tem nome: custo de oportunidade.

E mais: enquanto em outras áreas esse tipo de arrependimento é abstrato, no mundo financeiro ele pode ser medido. É possível — ainda que com alguma incerteza — estimar o que estamos deixando de ganhar ao escolher uma alternativa em vez de outra.

Interessante, né? Então fica comigo que eu te explico:

  • O que é o custo de oportunidade;
  • Como o custo de oportunidade funciona na prática;
  • Como calcular o custo de oportunidade;
  • Como analisar o custo de oportunidade;
  • Quais são os principais tipos de custo de oportunidade;
  • Exemplos do dia a dia.

Bora entender como considerar o custo de oportunidade para tomar decisões financeiras mais conscientes e com menos margem para arrependimento?

O que é o custo de oportunidade?

No glossário financeiro, o custo de oportunidade, como o próprio nome sugere, pode ser definido como o preço de se abrir mão de uma oportunidade financeira.

Mas engana-se quem pensa que se trata apenas de “perder o bonde” — como deixar de investir em algo que depois valorizou muito. Na verdade, trata-se do custo envolvido em qualquer escolha — ou mesmo na ausência dela.

Sempre que decidimos alocar dinheiro em um título ou nas ações de uma empresa, por exemplo, estamos, automaticamente, deixando de investir em todas as outras opções de aplicação disponíveis no momento.

Ou seja, ao escolher um produto de investimento, abrimos mão de todos os demais.
O custo de oportunidade é justamente o valor dessas alternativas renunciadas.

Como funciona o custo de oportunidade?

O custo de oportunidade é valor — quantitativo ou qualitativo — daquilo que você deixou de aproveitar por ter escolhido outra coisa.

Alguma vez na vida, você já teve que escolher entre duas opções e, depois, ficou se perguntando se fez a escolha certa — ou o que teria acontecido se tivesse optado pela outra? Se sim (e sei que sim), saiba que você já entende, na prática, como funciona o custo de oportunidade.

O conceito é antigo, de origem incerta, e ajuda a explicar um sentimento universal, presente em todas as áreas da vida. Não por acaso, já foi retratado por artistas e pensadores de diferentes épocas.

Mário Quintana, por exemplo, escreveu:

  • “A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.”

A mesma ideia apareceu na voz da banda Charlie Brown Jr., em verso conhecido:

  • “Cada escolha, uma renúncia. Essa é a vida.”

Lirismo à parte, a lógica é simples: ao optar por algo, você automaticamente está abrindo mão de todas as outras possibilidades.

E se me abstenho de escolher? Se deixo a vida me levar?” — para citar aqui outro cantor popular. Ainda assim, parafraseando Sartre, você estará escolhendo não escolher.

“Ok, mas não há como amenizar esse incômodo? Diminuir as incertezas?” Em muitas áreas da vida, não. Esse é o preço do livre-arbítrio. Já no contexto financeiro, felizmente, há formas de reduzir esse custo.

Ou seja, antes de tomar uma decisão financeira, é possível estimar o que se está deixando de ganhar ao optar por uma alternativa em detrimento de outra. Assim, você consegue avaliar se a escolha compensa o valor das opções renunciadas.

E como isso é feito? Ora, estamos falando de finanças… Está na cara que envolve um cálculo, né?

Já sei, agora você está se perguntando:

Como calcular o custo de oportunidade?

O cálculo do custo de oportunidade é bastante simples. Para encontrar esse valor, basta calcular a diferença entre os retornos esperados de duas ou mais opções de investimento.

A escolha com menor retorno, nessa comparação, será justamente aquela que carrega o maior custo de oportunidade. Já o valor desse custo é exatamente essa diferença entre os retornos.

Claro como água, não é mesmo? De qualquer forma, mesmo que não faça falta, o cálculo do custo de oportunidade pode ser representado da seguinte forma:

  • Custo de oportunidade = RMPI – RIE

Onde:

  • RMPI = Retorno da melhor opção possível de investimento (ou da opção não escolhida);
  • RIE = Retorno do investimento efetivamente escolhido.

Exemplos de cálculo de custo de oportunidade

Para fixar o conceito, que tal ver a fórmula aplicada na prática?

Imagine, portanto, uma empresa diante da seguinte decisão de investimento:

  • Alternativa X: aplicar o capital excedente em ações;
  • Alternativa Y: investir esse capital na própria empresa, adquirindo equipamentos para expandir a produção.

Agora, suponha que o retorno esperado das ações seja de 15% no próximo ano, enquanto a empresa estima que os novos equipamentos vão gerar um lucro de 12% no mesmo período.
Neste caso, o custo de oportunidade de investir na própria empresa é de 3%, em relação à aplicação no mercado de ações.

Vamos a outro exemplo?

Considere um investidor que esteja avaliando duas opções:

  • Alternativa X: investir em um CDB com rendimento de 8% ao ano;
  • Alternativa Y: aplicar em uma criptomoeda com retorno esperado de 20% ao ano.

Aqui, escolher a opção mais conservadora (o CDB) representa um custo de oportunidade de 12%. Fácil, né? 

Atenção: apesar de o cálculo do custo de oportunidade parecer simples, ele precisa ser feito com cautela.

Mas relaxa! Daqui a pouco eu te explico tudo isso com mais profundidade — para que você entenda como usar o custo de oportunidade a seu favor e evite cair em armadilhas.

Como calcular custo de oportunidade no Excel?

À primeira vista, calcular o custo de oportunidade parece simples demais para precisar do Excel. Afinal, trata-se apenas de subtrair o lucro esperado de uma opção pelo de outra, certo?

Mas e se você quiser saber exatamente quanto dinheiro está deixando de ganhar ao escolher um CDB que rende 12,2% ao ano em vez de uma ação com retorno estimado de 30%? Essa diferença de 17,8% pode parecer abstrata — até que você veja o impacto real no seu bolso, considerando o efeito dos juros compostos.

Complicou? Calma.

E se, além desse CDB e dessa ação, você também quiser comparar o custo de oportunidade de aplicar em um fundo imobiliário ou em uma debênture? É aí que o Excel entra em cena — para te ajudar a organizar os números e visualizar as diferenças com clareza.

A seguir, veja um passo a passo para montar uma planilha simples e comparar até quatro investimentos diferentes, identificando não só o retorno estimado, mas também o custo de oportunidade de cada escolha. 

Para este exemplo, imagine que você tem R$5.000,00 para aplicar e está a guardar dinheiro para uma viagem daqui a dois anos (24 meses). Suas opções de investimento e eventuais retornos são os seguintes:

Anotado? Então bora ver como aplicar esses dados na planilha e descobrir o custo de oportunidade de cada um deles.

1. Monte a tabela base

Abra uma nova planilha e escreva o seguinte:

ABCDEFG
InvestimentoCapital Inicial (R$)Rentabilidade mensal (%)Período (meses)Montante final (R$)Juros brutos (R$)Custo de oportunidade (R$)
Ação5.0002,524
CDB5.0001,124
Debênture5.0001,624
FII5.0001,324

2. Calcule o montante final de cada investimento

Na coluna E, use a fórmula de juros compostos para calcular o valor final de cada aplicação:

  • = B2 * (1 + C2/100)^D2

Depois, arraste essa fórmula até a célula E5.

Explicando a fórmula:

  • B2 = Capital inicial;
  • C2 = Rentabilidade mensal (%);
  • D2 = Número de meses;
  • ^ = Potência (juros compostos).

3. Calcule o juros bruto (quanto ganhou)

Na célula F2, insira:

  • = E2 – B2

Depois, arraste até F5 para calcular os juros de todos os investimentos.

4. Calcule o custo de oportunidade

Na coluna G, subtraia o retorno de cada investimento em relação ao melhor da lista. Se você fez tudo certo até aqui, sua tabela ficou assim:

Pronto! Agora ficou claro: o investimento com maior retorno — neste caso, a ação — tem custo de oportunidade zero. Já os demais mostram, em reais, quanto você estaria deixando de ganhar ao escolhê-los no lugar da melhor opção.

Como analisar o custo de oportunidade?

Objetivamente, analisar o custo de oportunidade não tem mistério: ao comparar o rendimento esperado entre duas ou mais alternativas, ele representa quanto você deixa de ganhar ao optar por uma aplicação menos vantajosa em vez daquela com maior potencial de lucro.

Mas calma lá! Antes de sair comparando números, tem alguns pontos importantes que vale considerar.

Primeiro: o custo de oportunidade é sempre baseado em expectativas, ou seja, em projeções ou dados do passado. Não dá pra ter certeza de que os retornos futuros vão acontecer exatamente como o previsto. Por isso, esse cálculo é sempre uma estimativa, feita antes de investir, e só dá pra saber o resultado real depois que o tempo passa.

Outro ponto: geralmente, quanto maior o potencial de lucro, maior o risco envolvido. Então é normal que o custo de oportunidade de investir num título mais seguro, como um CDB, pareça alto quando comparado, por exemplo, com ações ou criptomoedas.

Só que o risco dessas opções é bem diferente. E aí entra o seu perfil de investidor. Para quem é mais conservador, esse “custo” pode ser o preço da tranquilidade. Já quem topa correr mais risco pode usar o custo de oportunidade para buscar retornos melhores.

Nesse caso, antes de aplicar em renda variável, vale comparar a rentabilidade esperada com a de ativos considerados livres de risco, como o Tesouro Selic, ou com o CDI — referência comum de retorno em investimentos de renda fixa.

Outra forma de enriquecer a análise é usar indicadores de risco-retorno, como o índice de Sharpe (que mede o retorno adicional por unidade de risco) ou o índice de Treynor (que ajusta o retorno ao risco de mercado). Eles ajudam a avaliar se vale a pena assumir mais risco em troca de um retorno potencialmente maior.

Quais são os tipos de custo de oportunidade?

Desde uma perspetiva mais ampla, o conceito de custo de oportunidade aplica-se a praticamente todas as decisões da vida, o que torna difícil categorizá-lo de forma rígida. No contexto específico da economia e das finanças, contudo, é comum encontrar diferentes formas de classificação — ainda que sem consenso absoluto. Uma das mais populares divide o custo de oportunidade em quatro categorias:

  • Custo de oportunidade escondido;
  • Custo de oportunidade aberto;
  • Custo de oportunidade contábil;
  • Custo de oportunidade ambiental;

Mas qual a diferença entre esses tipos de custo de oportunidade? O que os caracteriza? Abaixo explico cada um deles individualmente para sanar essas dúvidas.

Custo de oportunidade escondido

O custo de oportunidade escondido, como o próprio nome indica, é composto por custos ocultos, implícitos, que são difíceis de identificar e mensurar. Muitas vezes, não é possível saber de antemão tudo aquilo que estamos renunciando ao tomar uma decisão.

Custo de oportunidade aberto

O custo de oportunidade aberto, ou explícito, é aquele que pode ser facilmente quantificado. Ao decidir entre duas opções, sabemos exatamente o que estamos deixando de ganhar ao escolher uma delas. Quando conhecemos o retorno das opções A e B, e optamos pela A, sabemos de que valores estamos abrindo mão ao não investir na B.

Custo de oportunidade contábil

O custo de oportunidade contábil é aquele que pode ser registrado e medido conforme as regras da contabilidade. Ele ajuda a comparar diferentes alternativas ou projetos, mostrando o valor que se deixa de ganhar ao escolher uma opção em vez de outra. Ou seja, mensura quantitativamente o lucro que a empresa deixa de obter ao optar por um investimento em detrimento de outro.

Custo de oportunidade ambiental

O custo de oportunidade ambiental reflete o valor dos benefícios sociais, ambientais e econômicos que uma empresa deixa de gerar ao optar por utilizar um recurso natural de determinada forma, em vez de preservá-lo ou explorá-lo de maneira sustentável.

Exemplos de custo de oportunidade no dia a dia

“Casar ou comprar uma bicicleta?” De raízes desconhecidas, essa famosa expressão popular é, ao mesmo tempo, um bom exemplo de custo de oportunidade, como também um ponto de partida perfeita para discutir o tema. 

O absurdo do contraponto deixa claro não se tratar de uma escolha literal. Nesse caso, uma interpretação recorrente é a de que a bicicleta representa a liberdade e casar é assumir compromisso. Ambas escolhas tem seus benefícios e consequências.

Essa, claro, não é a única interpretação possível. A mesma metáfora pode ser utilizada para explicar todas as decisões que podem resultar em grandes mudanças na vida: escolher um curso universitário. Trocar de profissão. Comprar uma casa. Mudar de cidade. Ter ou não filhos. E assim por diante. 

Esses, porém, são apenas alguns exemplos clássicos de custo de oportunidade.

 A lista, porém, é — sem exagero — infinita. Afinal, o custo de oportunidade também está presente nas pequenas escolhas da rotina. Todos os dias, do momento que acordamos até o que vamos nos deitar, estamos fazendo, sem parar, decisões de toda sorte. O que vai ter para o almoço? Cozinhar ou chamar um delivery? Assistir um filme ou ler um livro? (Que filme? Que livro?).

Um último exemplo? 

Ao abrir esse artigo, você abriu mão de fazer outras coisas. O tempo que dedicou para essa leitura, não volta mais. Não há como voltar atrás. A pergunta que fica é: valeu a pena?

Se o que você buscava era entender esse conceito tão importante para a vida como para as finanças, o custo de oportunidade certamente foi compensado

Se esse foi o caso, tenho um convite a fazer:

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