O que é um Global Depositary Receipt (GDR)?

Os Global Depositary Receipt (GDRs) podem ser descritos como títulos representativos de empresas estrangeiras, negociados em bolsas de valores locais. São, em outras palavras, certificados bancários lastreados em ações emitidas originalmente em outro países. 

O primeiro GDR da história foi emitido em 1927 e representava ações da Jardine Matheson Holdings, uma companhia sediada em Hong Kong, negociadas na New York Stock Exchange (NYSE), a Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE). 

Hoje, esse tipo de investimento pode ser encontrado em mercados de capitais de todo o globo, com diferentes nomenclaturas. No Brasil, por exemplo, são chamados de BDRs (Brazilian Depositary Receipts).

Esses papéis foram criados com o objetivo de facilitar o acesso dos investidores a ativos negociados em mercados do exterior. Do contrário, para aplicar em companhias internacionais seria preciso abrir conta em cada um dos países de origem dessas empresas, e enviar recursos ao estrangeiro. 

Para as empresas, por outro lado, os GDRs podem ser compreendidos como um veículo de financiamento transfronteiriço, uma forma prática de levantar recursos em outros mercados de capitais ao redor do globo. 

Como funciona um Global Depositary Receipt (GDR)?

De maneira simplificada, não é absurdo afirmar que os Global Depositary Receipts funcionam como um mecanismo capaz de “transformar” ações listadas originalmente em mercados de capitais de países estrangeiros em títulos passíveis de serem listados nas bolsas de valores nacionais. 

Para entender melhor como isso funciona, é possível desmembrar esse processo em etapas, conforme apresentado abaixo:

  1. Negociação: uma instituição financeira internacional faz a compra das ações de uma empresa estrangeira diretamente na bolsa de valores onde esses títulos estão listados;
  1. Custódia: essas ações são guardadas e bloqueadas no país de origem por essa instituição financeira, a qual passa, então, a atuar como custodiante desses ativos;
  1. Depósito: um banco internacional assume o papel de depositário, isto é compra essas ações da custodiante — que permanece responsável pela guarda;
  1. Emissão: após agrupar os GDRs em lotes, o banco depositário emite esses recibos e os distribui para negociação em seu mercado de capitais local;
  1. Aplicação: assim que estão listados nas bolsas de valores correspondentes, os investidores podem comprar esses certificados como se fossem ações.

Cada GDR recebe um código de negociação (ticker) pelo qual passa a ser operado livremente no pregão e identificado nas plataformas de negociação (os home brokers). 

A título de ilustração, os recibos da Apple, Amazon e Google podem ser encontrados na B3 (“Brasil, Bolsa e Balcão”, a bolsa de valores brasileira) como AAPL34, AMZO34 e GOOGL34, respectivamente. 

Mesmo que não sejam ações propriamente ditas, mas uma espécie de “reprodução”, os GDRs garantem aos seus detentores os mesmo direitos que teriam caso investissem pelas bolsas de valores onde os “títulos originais” são diretamente negociados.

Importante citar ainda que os Global Depositary Receipts são sempre emitidos de acordo com a legislação dos países onde são negociados. Nos EUA, por exemplo, esses títulos estão sujeitos às regulamentações da Securities and Exchange Commission (SEC) e suas demonstrações devem estar alinhadas aos padrões da US GAAP (United States Generally Accepted Accounting Principles).

Por aqui, atendem as exigências e normativas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e também da própria B3.

Quem emite GDRs?

Os Global Depositary Receipts são emitidos por bancos depositários e representam a propriedade de ações de companhias estrangeiras. 

Esses recibos são distribuídos nas bolsas de valores locais, onde podem ser adquiridos por investidores interessados. As ações subjacentes, por sua vez, são mantidas sob custódia no país de origem.

Em alguns casos, entretanto, os GDRs são patrocinados pela própria empresa emissora das ações originais.

Quais são as características de um Global Depositary Receipt (GDR)?

GDRs são caracterizados de formas distintas, a depender da categoria de cada um, que pode ser “patrocinado” ou “não patrocinado”. Dentro dessas classificações, os GDRs ainda podem ser divididos em diferentes níveis, de 1 a 3, como veremos a seguir:

Patrocinados x Não Patrocinados

A característica considerada neste tipo de classificação é o tipo de relação estabelecida entre a empresa estrangeira (emissora das ações) e o banco depositário (emissor dos GDRs), conforme explicado abaixo:

GDRs patrocinados

GDRs patrocinados são caracterizados pela cooperação entre o emissor estrangeiro e o banco depositário. São assim chamados, porque a empresa tem o interesse de listar suas ações para além das fronteiras do país onde estão sediadas.

Nesse cenário, a empresa estrangeira se dispõem a fornecer todas as informações exigidas pelos órgãos reguladores locais, o que pode incluir a manutenção de registros, divulgação de comunicados aos investidores internacionais, entre outros. São, por isso, considerados mais seguros.

Importante destacar que esse é o tipo mais comum de GDR, já que essa transparência costuma ser um requisito comum exigido pelas bolsas de valores para a listagem desses recibos.

  • Principais características dos GDRs patrocinados
    • São emitidos por interesse da empresa estrangeira;
    • Existe relação de colaboração entre a empresa e o depositário;
    • A empresa é responsável pela divulgação de informações;
    • Podem ser negociados em bolsas de valores.

GDRs não patrocinados

GDRs não patrocinados, como sugere o nome, não são criados por iniciativa da empresa estrangeira, mas por interesse exclusivo de um banco depositário. Essa instituição financeira age de maneira independente, adquirindo os ativos internacionais e emitindo os recibos para serem negociados em mercados de capitais diferentes daqueles onde os ativos subjacentes foram originalmente listados.

As informações relevantes aos investidores também partem do depositário, e não precisam obedecer legislações específicas, o que os torna mais arriscados. GDRs com essas características não podem ser negociados em bolsas de valores.

  • Principais características dos GDRs não patrocinados
    • São emitidos por iniciativa do depositário;
    • Não há colaboração entre a empresa e o depositário;
    • O depositário é quem fornece informações;
    • Não podem ser negociados em bolsas de valores.

Nível 1 X Nível 2 X Nível 3

Na classificação por níveis, a principal característica observada em um GDR é o ambiente em que esse certificado pode ser negociado, como demonstrado abaixo:

GDRs de Nível 1

O Nível 1 é a categoria mais simples e menos regulada de Global Depositary Receipt no mercado. Nesse nível, não é exigido que a emissora tenha registro na autoridade reguladora onde os GDRs são listados, o que significa que não há obrigação de fornecer relatórios constantes.

Esses títulos só podem ser negociados no mercado de balcão e não são utilizados para captação de recursos globais. Além disso, é o único nível que aceita GDRs não patrocinados.

  • Principais características dos GDRs de nível 1:
    • São negociados em mercados de balcão;
    • Não podem ser usados para levantar recursos;
    • Não precisam fornecer relatórios constantes;
    • Englobam títulos não patrocinados.

GDRs de Nível 2

Diferentemente do nível 1, o nível 2 exige que a empresa estrangeira obedeça as exigências de transparência dos órgãos reguladores dos países onde os GDRs são listados.

Esse tipo de recibo pode ser listado na bolsa de valores, mas não é utilizado para captação de recursos, uma vez que são lastreados em títulos já emitidos pela empresa emissora anteriormente. 

Neste nível, portanto, não ocorre a realização de ofertas públicas em um mercado diferente daquele onde a empresa está sediada.

  • Principais características dos GDRs de nível 2:
    • São listados em bolsas de valores;
    • Não podem ser usados para levantar recursos;
    • São atrelados a ações já emitidas;
    • Precisam obedecer exigências de transparência locais.

GDRs de Nível 3

O nível 3 engloba os Global Depositary Receipts mais prestigiados do mercado. Além de obedecer a todas as exigências de transparência dos órgãos reguladores, esse tipo de papel permite que as empresas estrangeiras levantem recursos junto a investidores de outros países.

Para serem classificados como de nível 3, os GDRs precisam ser originados em novas ações. Em outras palavras, a companhia precisa realizar uma oferta pública de novas ações (seja IPO ou follow on) na bolsa de valores na qual pretende ingressar.

  • Principais características dos GDRs de nível 3:
    • São listados em bolsas de valores;
    • Servem para levantar recursos;
    • Obedecem regulamentações de órgãos locais;
    • Exigem o lançamento de oferta pública;
    • Englobam unicamente títulos patrocinados.

Além dessas duas classificações principais, os GDRs também se distinguem entre si, segundo o país em que são emitidos. 

Os recibos negociados no Brasil, por exemplo, são cotados em reais e obedecem às exigências dos órgãos reguladores do mercado de capitais brasileiro. Certificados operados no Japão, por sua vez, são comercializados em ienes e seguem legislações específicas do mercado japonês.

Onde são negociados os GDRs?

Os GDRs podem ser encontrados em bolsas de valores e mercados de balcão em todo o globo, permitindo que investidores locais possam negociar ações de empresas estrangeiras, sem que precisem enviar recursos para diferentes países. 

Em cada mercado, contudo, esses recibos são denominados de forma distinta. Nos EUA, por exemplo, onde é possível ter acesso a recibos representativos de mais de 3 mil empresas estrangeiras — incluindo de companhias brasileiras —, são chamados de ADRs (American Depositary Receipts) e podem ser encontrados em diferentes bolsas, além do mercado de balcão.

 Já, no Brasil, esses certificados são chamados de BDRs (Brazilian Depositary Receipts). Pela B3, o investidor brasileiro pode ter acesso a mais de 900 ativos internacionais, incluindo ações de gigantes como a Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet (Google).

Em que moeda são negociados os GDRs?

Os Global Depositary Receipts podem ser negociados em diferentes moedas dependendo dos países onde estão listados. Geralmente, são cotados na moeda local: os American Depositary Receipts são comercializados em dólares americanos; já os Brazilian Depositary Receipts são adquiridos em reais, e assim por diante. 

O preço desses certificados, contudo, segue a cotação de seus ativos subjacentes nos países de origem. Logo, se uma ação da Apple (AAPL) está em alta na Nasdaq, nos EUA, seu BDR, o APPL34 negociado na B3, também se valoriza. 

Apesar disso, essas variações não são idênticas. O preço do recibo tanto pode ficar aquém quanto acima do original. Isso se deve a dois fatores: a taxa cambial e o GDR Ratio — que representa a proporção entre um Global Receipt Depositary e sua ação subjacente.

A relação de câmbio entre as moedas em que os GDRs são cotados e a moeda da ação original exerce grande influência no desempenho desses títulos. 

Para manter o exemplo anterior, o investidor que possui APPL34 em sua carteira pode maximizar seus rendimentos quando o dólar valoriza em relação ao real. O contrário também é verdadeiro: sempre que a moeda brasileira aumenta em relação à americana, os retornos desse certificado são mitigados.

Além do câmbio, o retorno de um recibo de depósito também é afetado pelo ratio, ou seja, a proporção entre os Global Depositary Receipts e a ação a que está atrelado. Se uma empresa emitiu 1 GDR para cada 5 ações ordinárias, por exemplo, o GDR Ratio é de 1:5. Isso significa que cada certificado representa 5 ações ordinárias. Da mesma forma, esse recibo bancário também pode ser emitido como frações do ativo original.