Com o uso constante, certos termos acabam perdendo o impacto — quando não o sentido. É o caso do código de ética empresarial: frequentemente citado, raramente discutido a fundo.

À primeira vista, pode parecer apenas mais um documento burocrático — aquele que fica emoldurado num corredor ou esquecido numa aba do site da empresa. Mas a verdade é que ele tem um peso cada vez maior.

Vivemos numa era em que reputações podem ser arruinadas em poucos cliques e em que o consumidor cobra das empresas posicionamento claro e coerente. Por isso, definir os princípios da empresa — e, mais importante, colocá-los em prática — é essencial para preservar o valor da marca. Negligenciar a ética pode custar caro: prejuízos financeiros, perda de confiança e até a fuga de investidores.

Ou seja: ignorar o tema está fora de questão. Por isso, convido você a dedicar alguns minutos a entender o que realmente está por trás desse conceito. Neste artigo, vou explicar:

  • O que é o código de ética da empresa?
  • Qual a diferença entre código de ética profissional e o código de conduta corporativo?
  • Por que as empresas estão implantando códigos de ética?
  • Qual a relevância do código de ética dentro das empresas?
  • Quem deve ser responsável pela criação do código de ética?
  • Como é implementado o código de ética na empresa?
  • O que fazer ao testemunhar um desvio em relação ao código da empresa?

Vamos em frente?

O que é o código de ética da empresa?

O código de ética da empresa pode ser descrito como um documento que registra os princípios da companhia e os padrões de conduta a serem seguidos por todos os colaboradores — e, muitas vezes, também por terceiros — no ambiente de trabalho. Simples, não é?

Mas um tema tão importante não pode ser limitado a uma explicação tão breve. Permita-me, então, explicar brevemente cada componente desse termo, para depois voltarmos a juntar as peças:

  • Código: segundo o dicionário Michaelis, é uma “coleção metódica e ordenada de leis ou de disposições relativas a um assunto especial”. Exemplos amplamente conhecidos na história incluem o Código de Hamurábi e os Dez Mandamentos judaico-cristãos;
  • Ética: do grego ethos, significa tanto caráter quanto comportamento. Um dos ramos clássicos da filosofia, a ética pode ser definida como o “estudo da moral” e debate, essencialmente, o que é certo ou errado em determinado contexto.

Assim, um código de ética empresarial nada mais é do que um compilado organizado de convenções formais — muitas vezes expresso em tom normativo ou proibitivo — que orienta o comportamento dos envolvidos. Ele define, de maneira clara, o que é esperado e o que é inaceitável dentro da cultura corporativa.

 Ao estabelecer limites e responsabilidades, o código promove a integridade, a transparência e a confiança nas relações profissionais, servindo como referência para decisões cotidianas.

Qual a diferença entre código de ética profissional e o código de conduta corporativo?

Bastante próximos, o código de ética profissional e o código de conduta corporativo — ou empresarial — são termos passíveis de confusão, mas não significam a mesma coisa:

  • Código de conduta corporativa: compila as regras e normas de comportamento a serem seguidas por todos os colaboradores de uma empresa no ambiente de trabalho;
  • Código de ética profissional: reúne princípios morais que guiam o exercício de uma profissão. Exemplo clássico é o Juramento de Hipócrates, feito por estudantes de Medicina ao concluir o curso, comprometendo-se com a ética no cuidado à vida.

Definidos os conceitos, vale ainda pontuar algumas diferenças que a auxiliam a dissociar esses dois tipos de códigos éticos.

 O código de conduta corporativa é interno, definido pela própria empresa.  Geralmente, é mais objetivo e prático, abordando situações práticas, como o uso de recursos da empresa, relacionamentos interpessoais, sigilo de informações, entre outros. Seu foco está no “como agir” diante de situações concretas do cotidiano profissional.

O código de conduta profissional, por sua vez, é mais amplo e conceitual. Elaborado, normalmente, por entidades de classe (como OAB, CFM ou a Anbima) é direcionado a todos os profissionais daquela área, independentemente da empresa onde atuam.  

Por que as empresas estão implantando códigos de ética?

O estudo da ética remonta à Grécia Antiga, enquanto registros de condutas morais organizadas — como o Código de Hamurabi — são ainda mais antigos. Se esse não é um tema novo, por que, então, os códigos de ética corporativos parecem um assunto tão atual? A resposta é simples: a ética passou a ser também um fator de competitividade.

Assim como indivíduos são julgados por seus comportamentos, hoje as empresas também são avaliadas publicamente. Se antes a reputação era construída lentamente e protegida nos bastidores, hoje ela é constantemente testada sob os holofotes. 

Por meio das redes sociais, os consumidores têm um canal direto e poderoso para cobrar posicionamentos, denunciar incoerências e exigir ações concretas. Uma falha ética, mesmo pontual, pode ganhar proporções globais em poucos minutos — e custar reputação, clientes e dinheiro.

Mas claro, afirmar que a preservação da imagem é o único motivo da preocupação das marcas com a adoção de códigos de ética seria uma grande generalização. Entre outros motivos, empresas também os implementam para:

  • Estabelecer padrões claros de conduta e tomada de decisão;
  • Promover uma cultura organizacional íntegra e alinhada aos valores da empresa;
  • Prevenir conflitos, fraudes, assédio e outras práticas prejudiciais;
  • Fortalecer a imagem da empresa na região onde está inserida;
  • Cumprir requisitos legais, regulatórios e de mercado;
  • Atrair e reter talentos que compartilhem os mesmos princípios;
  • Fidelizar e aproximar o público da marca;
  • Criar um padrão igualitário para encaminhar questões de conflito, evitando decisões arbitrárias ou incoerentes;
  • Proteger os interesses do público e dos profissionais da organização, criando um ambiente mais seguro, justo e transparente;
  • Manter boas relações com fornecedores, parceiros e outros terceiros, o que fortalece a rede de confiança da empresa e pode abrir novas oportunidades de negócio no futuro.

Em resumo, mais que uma mera formalidade, o código de conduta ética é atualmente um instrumento estratégico, que influencia desde a governança até a percepção da marca no mercado. Mais que orientar comportamentos e estabelecer limites, ele fortalece relações e contribui para a sustentabilidade da empresa no longo prazo.

Quais são os códigos de ética de uma empresa?

Os códigos de ética de uma empresa variam de acordo com seus valores, setor de atuação e cultura organizacional. Ou seja, cada organização vai definir suas próprias diretrizes com base no que considera adequado em termos de conduta profissional, relacionamento interpessoal, responsabilidade social e integridade nos negócios.

Dá uma olhada em alguns exemplos comuns de temas abordados em códigos de ética incluem:

  • Compromisso com a honestidade e transparência nas relações internas e externas;
  • Combate à discriminação e ao assédio no ambiente de trabalho;
  • Políticas contra corrupção, suborno e conflito de interesses;
  • Diretrizes sobre uso responsável de informações confidenciais;
  • Regras para relacionamento com clientes, fornecedores e concorrentes;
  • Compromisso com a sustentabilidade e responsabilidade social;
  • Conduta esperada nas redes sociais e ambiente digital.

Basicamente, esses códigos funcionam como uma referência para orientar atitudes, reforçar a cultura da empresa e prevenir comportamentos que possam prejudicar a reputação ou o ambiente de trabalho.

Qual a relevância do código de ética dentro das empresas?

O código de conduta ética não deve ser visto como mera burocracia ou formalidade. Este documento, quando bem formulado e devidamente seguido por toda a hierarquia da companhia, traz uma série de vantagens para a empresa. Os mais notáveis são:

  • Segurança;
  • Melhora na reputação;
  • Simplificação da gestão de capital humano;
  • Cumprimento de requisitos legais e regulatórios;
  • Tomada de decisões éticas em momentos difíceis.

Abaixo explico, de forma individualizada, cada um destes pontos:

Segurança

Um código de conduta ética contribui decisivamente para a criação e manutenção de um ambiente de trabalho onde todos os colaboradores se sintam seguros, acolhidos e respeitados.

Ao estabelecer de forma clara as normas de conduta esperadas, o documento também orienta sobre como vítimas e testemunhas devem agir em casos de violação. Além disso, define as consequências aplicáveis, oferecendo uma base sólida para lidar com situações inadequadas ou criminosas, como assédio, discriminação, fraudes, entre outras.

Dessa forma, o código protege não só quem colabora com a empresa, como também a própria organização, prevenindo riscos legais, financeiros e, naturalmente, danos à reputação — como explicarei a seguir.

Melhora na reputação

Se até duas décadas atrás a reputação de uma empresa era construída gradualmente, as redes sociais aceleraram exponencialmente esse processo. Hoje, tudo tem potencial de viralizar e, do dia para a noite, o nome de uma empresa pode ser elevado ou arruinado. Não é raro, por exemplo, que companhias envolvidas em escândalos ou denúncias percam milhões em valor de mercado antes mesmo de conseguirem reagir.

Ao adotar e seguir um código de conduta ética, a empresa não só se posiciona como uma marca confiável. Ganha também agilidade para se pronunciar publicamente e demonstrar que desvios de conduta não são tolerados. Isso não só evita crises de imagem, como estanca perdas.

Marcas comprometidas com o bem-estar social e a integridade podem ainda beneficiar-se do engajamento orgânico nas redes, fortalecendo a reputação e reduzindo custos com marketing.

Simplifica a gestão de capital humano

Ao definir as regras de conduta a serem seguidas por todos os profissionais que atuam na companhia, o código de ética faz integrar todos os colaboradores, independentemente do cargo. 

Isso reforça a transparência e assegura a boa relação de convivência e o sentimento de confiança dos trabalhadores na empresa para a qual trabalham.  

Cumprir requisitos legais e regulatórios

Um bom código de conduta ética também corrobora para que a empresa esteja em cumprimento com requisitos legais e regulatórios, evitando possíveis problemas — e custos — legais.

Além disso, demonstra às autoridades, órgãos reguladores e supervisores, investidores e parceiros comerciais que a empresa está comprometida com práticas responsáveis e em conformidade com a legislação vigente. 

Isso fortalece a credibilidade institucional e pode facilitar auditorias, fiscalizações e processos de certificação. Em alguns setores, especialmente os mais regulados, como o financeiro, esse compromisso é, inclusive, necessário para garantir a continuidade das operações e evitar sanções.

Tomar decisões éticas em momentos difíceis

Sem um código de conduta ética adequado torna-se mais difícil identificar comportamentos passíveis de punição e definir quais medidas devem ser adotadas em cada situação.

Além disso, a ausência desse referencial pode levar a decisões inconsistentes ou arbitrárias. Já com um código bem estruturado, a empresa dispõe de critérios objetivos que orientam a tomada de decisão, promovendo justiça, coerência e igualdade no tratamento de conflitos e desvios éticos.

Quem deve ser responsável pela criação do código de ética?

“Minha empresa, minhas regras. Correto?” Na verdade, não é — ou, pelo menos, não deveria ser — bem assim. Para que o código de ética consiga, desde a sua origem, englobar todos os colaboradores e fomentar um ambiente de confiança, ele deve ser desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, e não de forma unilateral pelo CEO, por exemplo.

Normalmente, o processo de elaboração é liderado pelos departamentos Jurídico e/ou de Compliance, em parceria com a equipa de Recursos Humanos (RH). Como muitos dos desvios de conduta moral no ambiente de trabalho envolvem situações de assédio ou discriminação por parte de superiores, é essencial que representantes de diferentes áreas da empresa — com distintos contextos sociais e níveis hierárquicos — sejam convidados a participar.

Só assim é possível garantir que o código de ética seja, de fato, um documento inclusivo, eficaz e reconhecido por todos os colaboradores como legítimo e aplicável.

Como é implementado o código de ética na empresa?

As etapas de implementação do código de ética em uma empresa incluem:

  • Criação e aprovação do código;
  • Comunicação e treinamento;
  • Implementação e monitoramento;
  • Cultura de ética.

Vamos juntos entender como cada passo acontece.

Criação e aprovação do código

Tudo começa com a formação de um comitê responsável pela elaboração do código de conduta ética. Além do setor Jurídico e do RH, é importante contar com a participação de colaboradores de diferentes níveis hierárquicos e áreas, garantindo que o documento seja o mais inclusivo possível. Para evitar burocracia excessiva, recomenda-se que esse grupo seja pequeno e coeso — mas representativo.

Com a equipe formada, as inspirações sobre o que incluir — e como — podem vir de diversas fontes: do próprio setor de compliance (responsável por garantir que a empresa atue em conformidade com leis, regulamentos e boas práticas do mercado), de situações passadas vividas pela empresa ou por concorrentes, ou ainda de códigos de conduta de outras organizações. Nesse caso, é essencial adaptar tudo à realidade específica da empresa, para que o conteúdo reflita situações reais do dia a dia da organização.

Um código de conduta ética mais completo pode contemplar temas como:

  • Conduta com acionistas — incluindo os minoritários;
  • Interações entre funcionários e com a liderança;
  • Regras de recrutamento e seleção, com ênfase na valorização da diversidade;
  • Política de privacidade e proteção de dados;
  • Critérios para avaliação de desempenho e promoção;
  • Canais de denúncia para testemunhas e vítimas;
  • Procedimentos para desligamentos e demissões;
  • Atendimento e postura no trato com clientes;
  • Comunicação com a imprensa e posicionamentos públicos;
  • Envolvimento com a comunidade e causas sociais;
  • Critérios na escolha e relacionamento com fornecedores;
  • Concorrência leal e ética no mercado;
  • Postura perante órgãos públicos, reguladores, fiscais e figuras políticas;
  • Compromisso com a sustentabilidade e proteção ambiental.

Além da divulgação inicial, é importante manter o tema vivo dentro da organização. Palestras, formações e ações de reciclagem ajudam a reforçar o conteúdo do código, integrando novos colaboradores e mantendo o compromisso ativo.

Comunicação e treinamento

Código aprovado? É hora de comunicar a equipe e, se necessário, promover treinamentos para garantir a sua aplicação uniforme em todos os setores.

O primeiro passo é assegurar que o texto do código esteja livre de juridiquês ou termos excessivamente técnicos. O documento precisa ser compreensível para todos os colaboradores, sem esforço. É interessante também que o código reflita a identidade da marca — por isso, é recomendável que a equipe de marketing participe da revisão e da comunicação visual do material.

Com tudo pronto, é hora de apresentá-lo. O ideal é lançar uma campanha de comunicação interna, explicando o conteúdo e os motivos da sua criação. Todos os pontos devem ser claros e amplamente divulgados, para que, em caso de conflito, a empresa possa cobrar com base em um conhecimento partilhado.

Além da divulgação inicial, é importante manter o tema vivo dentro da organização. Palestras, formações e ações de reciclagem ajudam a reforçar o conteúdo do código, integrando novos colaboradores e mantendo o compromisso ativo.

Implementação e monitoramento

“Código criado e apresentado, está tudo pronto, certo?” Errado! Oficializar um documento não garante, por si só, que ele será seguido na prática. Por isso, tão importante quanto criá-lo é implementar mecanismos para acompanhar sua aplicação e eficácia.

O desafio aqui é encontrar formas de monitoramento que permitam avaliar o cumprimento das regras — por meio de reuniões, avaliações, feedbacks ou canais de denúncia — sem gerar um clima de desconfiança. 

Um ambiente marcado por paranoia, vigilância excessiva ou delações pode minar a cultura que o próprio código tenta construir. O objetivo deve ser justamente o contrário: fomentar relações justas, respeitosas e seguras, onde todos se sintam à vontade para cumprir suas funções.

Cultura de ética

Um código de conduta ética pode demorar um tempo para entrar no prumo. Com o passar tempo, contudo, a cultura ética da companhia passa a se misturar com sua própria identidade, de forma que até os consumidores se sentem identificados.

Quando a ética deixa de ser apenas um conjunto de regras e passa a ser vivida no dia a dia, o código deixa de ser visto como um instrumento punitivo e se transforma num diferencial da marca. Ele pode, inclusive, ajudar a atrair e reter talentos que se identificam com os valores da empresa.

Entre uma organização que causa prejuízos à sociedade ou trata mal os seus colaboradores, e outra que valoriza ambos, em qual você teria mais orgulho — ou vontade — de trabalhar? A resposta é óbvia.

O que fazer ao testemunhar uma desvio em relação ao código da empresa?

Os colaboradores precisam ser capazes de identificar desvios de conduta ética e se sentirem confortáveis e seguros para comunicar esse tipo de situação. Quando, por sua posição ou por outros motivos, optam por se calar, há o risco de que comportamentos prejudiciais se espalhem e comprometam o ambiente de trabalho como um todo.

Os passos recomendados ao testemunhar um comportamento antiético incluem:

  • Confirmação dos fatos: é preciso ter o cuidado de não agir por impulso, retaliação ou com base em boatos. Antes de qualquer atitude, é muito importante certificar-se de que existem indícios plausíveis de violação;
  • Consulta ao código de ética: diante de uma conduta duvidosa, vale consultar o código da empresa. O documento ajuda a entender se o comportamento observado está, de fato, em desacordo com as normas, além de orientar sobre como proceder;
  • Utilização dos canais da empresa: a maioria das organizações oferece canais formais para o registro de denúncias, como ouvidorias, setor de RH ou gestores de confiança. Muitas vezes, esses meios são anônimos, para proteger o denunciante;
  • Manutenção da discrição: evite comentar o ocorrido com outros colegas.  A confidencialidade é essencial para que os fatos sejam apurados de forma justa e imparcial, sem alimentar rumores ou julgamentos precipitados.

Um bom código de conduta, aliás, deve elucidar claramente como os colaboradores devem proceder em situações como essa — e oferecer garantias de proteção contra retaliações.

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